Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O chá que esfriou na xícara e ficou lá




Tem dias que simplesmente não há o que falar. Não há o porquê falar. As palavras pesam e acabam tornando-se outro fardo, e não há de se colocar mais pesar sobre a realidade tão pouco aprazível. As notícias chegam como lâminas. Machucam. Cortam e fazem doer. Como aceitar o inevitável? Como aceitar o sofrimento de quem se ama e a impotência que vem junto com ele? Como olhar para esse futuro e não desejar que nada disso seja verdade? Como vivenciar o esmorecimento da vida? Tudo isso vai permanecer sem resposta e teremos que continuar respirando. O sol ainda se atreve a nascer todo dia como se ainda fosse tempo de esperança. E não é. Todo tempo nos foi tirado. Toda chance de uma cura nos foi negada. Metástase. O mundo desaba e acaba logo ali depois de mais alguns poucos dias. O pranto chega e se instala. Quase impossível não vivenciar um pré luto, de uma luta que não queria participar. Chega ser ridículo querer um chá para amenizar essa severidade. Um torpor. Por mais que ande na direção contrária não consigo me afastar da notícia inesperada de tua doença. Por mais que entenda que na tua idade isso já fosse esperado, não consigo aceitar com a serenidade e sabedoria que o momento exige. Me sinto uma criança contrariada. Querem tirar meu avô de mim, querem que eu entenda. Querem que eu aceite. E eu só quero chorar e brigar com Deus. Brigar tanto até ele entender que certas pessoas deveriam virar semente. Ele certamente não quer me ouvir. O que me resta é chorar e pedir aceitação das coisas que não posso mudar, acender uma vela, pedir desculpas a Deus, lembrar de todos as manhãs de sábados felizes que passei contigo vô, guardar aquela cestinha de vime que fizeste pra mim com essas mãos que tanto amo. Guardar todos esses momentos no lugar mais bonito que conseguir fazer. Te guardar como quem guarda um pouquinho do outro pra si. Pra sempre.

( desculpe Nono, mas por hoje ainda preciso chorar. )

Em tempo: Obrigada pela Cinamomo.




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Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.