Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Esquecimento


A noite emudeceu e no quarto vazio descobri que o resquício da crença na estação de calor que por um descuido meu brotou, esvaiu-se no meio de uma tarde meio chuvosa. Lembrei que não devo acreditar em tudo que leio. Lembrei que romances cabem em livros antigos. Em filmes geralmente em preto e branco. Vi uma folha do plátano novo cair amarela, logo chega o tempo mais ameno e tudo isso por uma certa graça talvez desmerecida mas ainda assim presente, vá embora junto com o excesso de luz dos dias. Os olhos que insistem em procurar por aquele brilho desaparecido agora derretem-se em pura água salgada. É certo que as cadeiras devem permanecer na sombra, como é certo também que a tua fala é um pouco distante de um futuro real. O corpo sempre esquece dos recantos por onde esteve, e partir é um preço que parece estrada vazia. Foi apenas uma vertigem de voz que permanecerá calada até o fim de mais essa estação.


Um comentário:

Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.