Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Listas


-Desejo do dia?

-Pensar em SÂNSCRITO.
-Morar em um LIVRO.
-Passar as férias em um FILME argentino.

-Posso? 
-Não entendo a pressa em chegar. ( Nem eu )


 

Cura(R)(doria)


Quero tanto dissolver tuas dores. Derreter teu sangue de coração endurecido. Te regar com água que brota de flor amarela. Pegar tua tristeza entre as mãos e desejar a mágica da cura. Sentir o brotar de um sentimento bonito. E depois, voltar ao meu posto de observadora, para te ver surgir pétala entre velhos espinhos. 

( nos é permitido suspirar por desejos fortes, nos é negado o direito de interferir. Somos apenas uma soma do que conseguimos abstrair, mesmo que isso pareça pequeno. )


segunda-feira, 19 de outubro de 2015


Somos covardes. 



Posso esperar. Quero.
Posso te sentir quando vens aqui me ler. Consigo.
Quase te toco. Dói.
Teu perfume já é distante. Esqueço.
A textura da tua pele é apenas uma lembrança de meu tato triste. Gasto.
Teu beijo. Sonho.


terça-feira, 22 de setembro de 2015


Para ti, que sente espinhos onde só existe Amor!





Já era bem antes de ser


E, por amor,
Amar torna-se verbo solitário.
Imaculado, silencioso.
Denso.
Amar o amor que não permite o afago
É espinho.
Amar, conjugar-se devia
Apenas no plural
Amor pede cúmplices.

( porque somos carne )


Da mesma forma do que já nos foi real


Porque somos a carne que nos dói antes das horas afundarem na demora de mais uma noite insone. Só os que vivem a ausência das pálpebras fechadas entendem a severidade do tempo além das madrugadas. Tudo que permanece aqui afasta ainda mais a luz da manhã. Hora de trocar os tapetes. O piso gelado encontra pés inquietos e doloridos. Afastamentos ressurgem por depois dos ossos, solidões. Singulares. Primeira pessoa. Nada nasce antes de mais um dia e, nada morre. Chá que esfria indigesto. Entre sombras, flores no vaso são fantasmas de algo que teve vida. Haste sem seiva. Um outro agora sem ponteiros. Uma casa vazia. 

( porque sempre voltamos aos lugares que nossa memória afetiva aponta. Olhos azuis nunca nos mostram outra verdade que não seja cruel, temos que atravessar pontes cujas cordas já estão gastas pelo tempo. Noutro lado, outro engano. Caímos. )


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Palavra por palavra


Fiz um pedido para o céu. Não sei o que tem lá depois daquela imensidão azul. Espero que o vento carregue as preces até longe e que se não forem ouvidas pelo menos esses mesmo ventos devolvam um pouco de leveza a esse coração. Às vezes faz bem deixar que  carreguem as bagagens da alma. Logo penso que orar assim é pura esquizofrenia. Uma grande bobagem. Acabo me perdendo entre a necessidade de entrega e a busca por uma realidade palpável. Um caminho cheio de tropeços e pontes. Remendos. Nunca saberei o que é de verdade, nunca encontrarei o entendimento que busco. Meus tratos com a fé sempre acabam bem antes do sol nascer. Já consigo dormir, logo passa também esse medo de tudo que te lembre. 

( escrever cartas para quem não sabe ler é doar-se apenas ao papel, no papel de destinatário de sentimentos que serão apagados pela demora. )


domingo, 3 de maio de 2015

Transmutação


Basta sentir?
O que fazer com isso que nunca será?
E as histórias que desenhamos e jamais ganharão vida?
Para onde vão todas essas coisas?
Onde fica o Amor que não entregamos?
Será que alguém ganha o que perdemos?
Aquilo que permanece dentro, será que desmancha na lágrima?

E o que faço agora?


Vazia


E mesmo que não estejas aqui, te sinto e percebo. Quase posso te tocar. Dói tanta coisa em mim, e justamente a parte mais machucada esta longe. Uma amputação. É sempre um quase tocar, uma quase presença, uma antecedência de loucura, uma falta sem fim. É quase um querer, bem mais longo e longe disso. Um permanecer aqui e um estar aí, Uma ferida aberta e exposta sem que ninguém veja. Uma dor que lateja perto do mar. Um egoísmo teu em manter a cura contigo. Uma melodia triste e monótona. Uma busca que vai se estender muito além dos dias. O tempo nada esquece, apenas te afasta cada vez mais. Justamente o tempo que não temos. Perto ou longe, sempre distantes. E os domingos insistem e existem no calendário, mesmo que eu os risque, mesmo que eu os pinte de preto, eles aparecem. A insistência dos dias. Não reconheço teu cheiro. As mãos também perderam a memória. Perdi. 

( Perdi bem mais do que apenas tua presença. Perdi a mim. Não encontro mais quem fui e não faço ideia do que sou, muito menos o que serei. Sinto-me vazia. Um espectro de tanto sentir. Falta a intensidade que vinha da esperança de te achar. O tempo esgotou as possibilidades e agora já não existe o futuro. Seguiremos por hoje. Apenas hoje, já que não temos um amanhã. Seguiremos. )




segunda-feira, 13 de abril de 2015

O quanto pode ser longa uma espera

Quando apenas sentir já não basta
Quando o que falta  é o toque da alma que está longe
Quando o mar está mais perto de ti do que de mim
Quando acordo e sinto tua falta
Quando sei que  te buscar não é mais uma opção
Quando te quero mais que tudo  (e não posso querer )
Quando espero e os dias são longos

Quando o sentimento é uma ausência ( apenas para não falar de amor, porque sem tua presença isso se perde e não quero que sobre outra coisa que não seja o próprio AMOR. )




Decadente


O tempo que temos não nos pertence
Somos feitos de nossas ausências
Sentimos tudo o que nos foi negado
Permanecemos em completo estado de torpor
Somos a parte escura de nossas próprias histórias
Somos o que nos falta

( Ainda resta algum tempo antes de conseguir perceber que morrer é apenas um detalhe que talvez tenha sido esquecido nesse espectro de vida. O frio por trás dos ossos é latente e serve para aportar a dor de uma alma cansada e velha. Por sorte a memória das mãos também é muito vaga e os olhos que antes dormiam em potes de água agora demoram mais para acordar. Ainda resta algum tempo, mesmo que não se saiba o que fazer com isso.)


domingo, 8 de março de 2015

Para lembrar de ser


Preciso respirar, encontrar uma maneira de fazer isso parecer menos cruel...
Preciso de ti aqui comigo, preciso te tocar
Preciso te sentir, sentir que posso me sentir viva de novo
Preciso te ouvir, ouvir que ainda sou capaz de perceber as palavras
Preciso de ti para lembrar de como eu era quando fui capaz de viver

( quero que a ingenuidade permaneça comigo, assim sigo acreditando que tudo voltará a ser... tudo voltará. )


Sussurro


( às vezes penso que devo falar bem baixinho para não acordar certos sentimentos. Sentimentos esses que podem permanecer em algum cantinho do coração, quietos e acalentados pela rotina das batidas de sempre. Deixe estar assim na quietude das coisas de dentro. Apenas deixe estar, deixe-me sentir. Deixe te contar que continuo te amando mais aos domingos... )


Conjugando-os

Tua demora insistente
Tuas horas que não marcam no meu relógio
Teu tempo que não passa aqui

Tu que não estás
Tu que não chegas
Tu que não consigo tocar

Eu que permaneci aqui longe do mar
Eu que conto os minutos
Eu que tenho medo de esquecer teu perfume

Nós que nunca fomos um plural
Nós que não sentimos a chuva
Nós que o tempo escolheu para brincar

( Não estamos, não fomos e nada do que sentimos será palpável. Não conjugaremos os verbos mais bonitos. Somos uma ausência. )








domingo, 22 de fevereiro de 2015

Um tempo que não passa


Continuo longe do mar. Longe de ti. Sei que tu vens aqui vez ou outra. Sei que me lês, sei que também buscas o passado que não tivemos, nosso futuro incerto. Ficou tudo lá, temos apenas uma foto e tanta lembrança. Parece tão real ainda. Dói tanto. Os domingos tão cruéis com essa saudade latente, palpável. Continuo aqui, e parece que ainda tenho aquela velha idade - erro tanto. Já deveria ter entendido que não devo procurar abraços em braços que não são os teus. Será que apenas isso que nos restou é o bastante para uma vida inteira? Essa dúvida me consome e a única coisa que sobra é Amor. O amor que cura, que transforma e que espera. Amor que lembra e que te quer aqui. Longe do mar. E enquanto estivermos longe vou lembrar e, me agarrar a essa lembrança. Sinto. Comprei um livro igual ao que te dei. Me perdoe mas é fevereiro e fica impossível não lembrar de como me sentia quando me abraçavas. Me perdoe, prometo melhorar. Logo muda a estação e fica um pouquinho mais fácil te esperar aqui em casa. 

( Tento em vão não escrever para ti, não consigo manter a promessa, as palavras começam doer aqui dentro. Não importa os anos, certas coisas simplesmente permanecem. Aos domingos te amo mais. )




quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Exercício de desconstrução


Uma simetria inversa. A perda do que se buscava. Um tempo onde nada muda e o nada perde-se em meio a tudo. As pontes que não ousamos atravessar. A água que molha mais do que nossos pés. O desencontro das palavras. Relógio quebrado em um tempo que não voltará. Resgate. As janelas que nunca ousamos abrir já criam limo em seus vidros inteiros, o que se adentra é apenas pedaço do que nos foi negado. Uma desconstrução na alma, nada fará sentido em meio à palavras tão carregadas. Perde-se. A negação de um caminho que mostra-se estrada longa e rochosa. Partiremos. Ou permaneceremos aqui, no lugar que não nos pertence e onde a luz chega apenas pelas frestas de outros espectros. Uma deformidade na escrita e na ordem do que sentimos. Um não sentir dormente. Uma lente grossa que ofusca a visão de dentro para fora. Cortina fechada, hoje o espetáculo é do outro lado, sem platéia. Não dormiremos com medo de ver o sonho que acorda a noite e permanece quando os olhos abrem-se. Partir. Ficar. Dormir. Negar. Permanecer e verbalizar a expressão presa. 

( O leite azeda fora da geladeira. O prato quebra e frutas mofam. Bolor dentro e fora. Mofo. Pó. Continuo perdendo as chaves e a porta cresce. A grama também cresce sem que as formigas percebam o bosque que se forma no macro desse micro universo. A vida segue e brota. Não sentiremos o luto das coisas perdidas. Sigamos. )


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A menina que roubava Livros - Markus Zusak


Livro que ganhei da Giulia em meu aniversário de 36 anos. Demorei um pouco para começar a ler porque não achei que essa leitura combinaria com um início de verão. Esperei a troca da estação e para minha surpresa não consegui parar de ler até encontrar o fim. E que leitura incrível, dois presentes no mesmo presente. O carinho da minha filha e uma das estórias mais lindas que li. Quanto talento Zusak, quanta sensibilidade na criação de tão encantadores personagens. Ontem revi o filme, também belíssimo, mas o livro sempre será especial. 
Uma estória que tem como narrador a morte, como primeira impressão imagina-se bastante tensa, mas o autor consegue desenvolver seu roteiro com extrema delicadeza, tratando a brutalidade e muitas vezes a crueza daquela realidade de uma forma tão cuidadosa e permeada com momentos de encanto. Seus personagens encontram razões para sorrir nas mais surpreendentes situações.
Meu exemplar encontra-se completamente cheio de anotações e sublinhados, realmente um encanto. Das partes que sublinhei destaco:

" Primeiro as cores, depois os humanos. Em geral, é assim que vejo as coisas. Ou, pelo menos, é o que tento. EIS UM PEQUENO FATO: você vai morrer.
   Com absoluta sinceridade, tento ser otimista a respeito de todo esse assunto, embora a maioria das pessoas sinta-se impedida de acreditar em mim, sejam quais forem seus protestos. Por favor, confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo.
REAÇÃO AO FATO SUPRACITADO: Isso preocupa você? Insisto - não tenha medo. Sou tudo, menos injusta. "

" Pessoalmente gosto do céu cor de chocolate. Chocolate- escuro, bem escuro. As pessoas dizem que ele condiz comigo. Mas procuro gostar de todas as cores que vejo - o espectro inteiro. Um bilhão de sabores, mais ou menos, nenhum deles exatamente igual, e um céu para chupar devagarzinho. Tira a contundência da situação. Ajuda-me a relaxar.
   UMA PEQUENA TEORIA:
  As pessoas só observam as cores do dia no começo e no fim, mas para mim, está muito claro que o dia se funde através de uma multidão de matizes e gradações, a cada momento que passa. Uma só hora pode consistir em milhares de cores diferentes. Amarelos céreos, azuis borrifados de nuvens. Escuridões enevoadas. No meu ramo de atividade, faço questão de notá-los.
  Como eu digo, o único dom que me salva é a distração. Ela preserva minha sanidade. Ajuda-me a aguentar, considerando-se há quanto tempo venho executando esse trabalho. O problema é: quem poderia me substituir? Quem tomaria meu lugar, enquanto eu tiro uma folga em seus destinos-padrão de férias, no estilo resort, seja ele tropical, seja da variedade estação de inverno? A resposta, é claro, é ninguém, o que me instigou a tomar uma decisão consciente e deliberada - fazer da distração minhas férias. Nem preciso dizer que tiro férias à prestação. Em cores. (...)
   De que precisa se distrair? (...)
   São os humanos que sobram. 
   Os sobreviventes.
   É para eles que não suporto olhar, embora ainda falhe em muitas ocasiões. Procuro deliberadamente as cores para tirá-los da cabeça, mas, vez por outra, sou testemunha dos que ficam para trás, desintegrando-se no quebra-cabeça do reconhecimento, do desespero e da surpresa. Eles tem corações vazados. Tem pulmões esgotados. "

" As árvores usavam cobertores de gelo. "

" Quanto a mim, eu já havia cometido o mais elementar dos erros. Não consigo lhe explicar a intensidade de minha decepção comigo mesma. "

" Uma definição não encontrada no dicionário: Não ir embora: ato de confiança e amor, comumente decifrado pelas crianças. "

" Tive vontade de dizer muitas coisas à roubadora de livros, sobre a beleza e a brutalidade. Mas que poderia dizer-lhe sobre essas coisas que ela já não soubesse? Tive vontade de lhe explicar que constantemente subestimo a raça humana - que raras vezes simplesmente a estimo. Tive vontade de lhe perguntar como uma mesma coisa podia ser tão medonha e tão gloriosa, e ter palavras e histórias tão amaldiçoadas e tão brilhantes.
   Nenhuma dessas coisas, porém, saiu de minha boca.
   Tudo o que pude fazer foi virar-me para Liesel Meminger e lhe dizer a única verdade que realmente sei. Eu a disse à menina que roubava livros e a digo a você agora:
   Uma última nota de sua narradora: Os seres Humanos me assombram. "



* Um livro fantástico para ler no outono ou no inverno, sem música, no máxima a chuva. Um livro que trata de todas as perdas possíveis, mas trata principalmente de corações bons, que são alento nas horas mais difíceis. Um livro para guardar para sempre. 



BrincAR


Vontade de rimar
Tu comigo
Eu contigo

( podemos combinar?)


ELA


Flores belas
Uma casa amarela
Poeminha de Florbela

Uma janela
Pó de canela
Na vida que não era dela

Um pouco de cautela
Vai bem até na panela
Apaga a vela

Que clareia a viela
Amanhece singela
Se aqui ficasse não seria ela

* Caiu CANELA na PANELA, que por causa do cheiro DELA, queimou a VELA que alumiava a JANELA, de onde via a casa AMARELA, onde as flores eram BELAS, e NELA tudo lembrava FLORBELA, que sempre foi AQUELA que SINGELA escrevia a tristeza DELA.



Sobre o livro que nunca escrevi



Sobre o que perdemos entre um piscar e outro
Sobre o que sentimos e não temos coragem de dividir
Sobre todas as histórias que nunca serão escritas
Sobre os sonhos guardados em velhas casas
Sobre tudo que não se tem coragem de ser
Sobre lembrar que palavras precisam de contornos
Sobre respirar e tomar fôlego para começar
Sobre colocar tudo no papel
Sobre gratidão de encontrar essas coisas que nos apontam uma direção
Sobre dividir domingos e ganhar o que se guarda em lugares bonitos
Sobre ser verdadeiro o sentimento 
Sobre buscar o que se quer muito
Sobre todas as coisas verdadeiramente importantes
Sobre parar de fugir
Sobre tudo e sobre nada, apenas sobre...



Castello Branco - O peso do meu coração



* Todos os dias da vida mereciam música assim. Todas as música mereciam esse carinho, cuidado e leveza. Todo amor merece música. Toda dor também. Todo dia, toda música, todo amor e toda dor.


Sentimento de nuvem


Por mais que tente saltar com as mão esticadas em tua direção, não te alcanço.
Evapora
Por mais que seja alvo o sentimento, não te alcanço.
Chove
Por mais que vente dentro e fora de mim, não te alcanço.
Sombra
Por mais que suba todos os degraus, não te alcanço.
Céu claro

Um sonho que ao acordar evapora. Um céu inteiro azul ( sem nuvem ). Esperar que as notícias venham carregadas pelo vento, aquele mesmo vento que carrega as sementes de dente-de-leão, leves e transparentes. Anjos. Uma chuva cristalina e serena que chora depois do céu se encher de nuvens. Que não seja um céu carregado. Que apenas carregue o que sente-se aqui dentro...



Dorme


Sonhei contigo, não te ouvia e estavas longe.
Estás longe. Não consigo te tocar.
Não consigo te ouvir.
Sinto e não quero crer.
Fecho os olhos e só lá te encontro.
Busco tua mão e acabo por me perder na procura.
Sinto o que não quero sentir.
Busco o que não encontro.
Quero o que talvez não seja para mim.
Quero um querer que não é palpável.
Sonhos são apenas para lembrar da impermeabilidade de tudo.
Apenas miragem no meio de um descanso raro.
Injusto te sonhar assim.
Cruel te ter longe.
Sonhos são apenas sonhos que às vezes nos mostram o que não queremos ver.
Palavras que não chegam e a voz que não ouço.
Nem tão pouco óbvio assim.

( era só para te contar que sonhei uma falta de ti, uma ausência grande que parece ainda maior em dias assim. )


domingo, 15 de fevereiro de 2015

Para lembrar que não devo esquecer de apagar a luz




Um meio minuto, um pouco tempo e já se finda.
Um quase tudo do nada que desejei. O não esperável.
O silêncio de algo que nos cerca e não encontra palavras.
O que em breve será apenas alguma lembrança.

Olhos derretidos.

Um dia perto de tudo que tanto nos falta.
Acredito em tudo que não fomos.
Acredito no acaso e no que se demora.
Sinto o peso da ponte que não cruzaremos.

Olhos derretidos.

Os pés desconhecem o caminho de volta.
Sempre a estação errada.
Um espaço registrado no meio de tanta coisa dita.
E ainda assim nos faltaram planos.


( Alguma vez a flor não brota e fica apenas um galho seco de água, seco de um pouco de terra. Outra vez apenas esquecemos de buscar pão e o dia começa estranho. Descansar de viver para lembrar, tirar tudo das gavetas e acomodar de outro jeito. Nunca mais viver só depois. )

( Não cabe tanta coisa entre dois parênteses apenas, não caberia mesmo em um único parágrafo. Não cabe tudo que carregamos entre indas e vindas. Olhos gigantes. Esquecermos o que importa não é para agora. Jamais esperar abrir as malas que vem de tão longe. Lembrar de apagar a luz. Mandar entregar as cartas guardadas. ( não quero lembrar de apagar a luz ) Quero esquecer e esquecer de novo. Apagar os vestígios de tudo que eu sempre quis dizer. )




sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O chá que esfriou na xícara e ficou lá




Tem dias que simplesmente não há o que falar. Não há o porquê falar. As palavras pesam e acabam tornando-se outro fardo, e não há de se colocar mais pesar sobre a realidade tão pouco aprazível. As notícias chegam como lâminas. Machucam. Cortam e fazem doer. Como aceitar o inevitável? Como aceitar o sofrimento de quem se ama e a impotência que vem junto com ele? Como olhar para esse futuro e não desejar que nada disso seja verdade? Como vivenciar o esmorecimento da vida? Tudo isso vai permanecer sem resposta e teremos que continuar respirando. O sol ainda se atreve a nascer todo dia como se ainda fosse tempo de esperança. E não é. Todo tempo nos foi tirado. Toda chance de uma cura nos foi negada. Metástase. O mundo desaba e acaba logo ali depois de mais alguns poucos dias. O pranto chega e se instala. Quase impossível não vivenciar um pré luto, de uma luta que não queria participar. Chega ser ridículo querer um chá para amenizar essa severidade. Um torpor. Por mais que ande na direção contrária não consigo me afastar da notícia inesperada de tua doença. Por mais que entenda que na tua idade isso já fosse esperado, não consigo aceitar com a serenidade e sabedoria que o momento exige. Me sinto uma criança contrariada. Querem tirar meu avô de mim, querem que eu entenda. Querem que eu aceite. E eu só quero chorar e brigar com Deus. Brigar tanto até ele entender que certas pessoas deveriam virar semente. Ele certamente não quer me ouvir. O que me resta é chorar e pedir aceitação das coisas que não posso mudar, acender uma vela, pedir desculpas a Deus, lembrar de todos as manhãs de sábados felizes que passei contigo vô, guardar aquela cestinha de vime que fizeste pra mim com essas mãos que tanto amo. Guardar todos esses momentos no lugar mais bonito que conseguir fazer. Te guardar como quem guarda um pouquinho do outro pra si. Pra sempre.

( desculpe Nono, mas por hoje ainda preciso chorar. )

Em tempo: Obrigada pela Cinamomo.




sábado, 7 de fevereiro de 2015

Uma música linda para amanhã





( Te guardar pra mim. )


Improviso emocional


Hoje é domingo e já não estou mais aqui. Logo passa, mas agora quero apenas encontrar o fim do dia e o começo de uma noite que faz divisa entre os dias inteiros e o dia que não merece data. Apagar o calendário. Só por habito escrevo em dias assim. Um torpor corrói os dedos. Uma câimbra no peso das horas. Um exercício de viver antes de voltar a respirar. 

O que será que Cícero quer dizer quando fala em enfeitar domingos? Só consigo pensar em apagar domingos...



Não cabe no papel


Comecei escrevendo sobre um livro bom que li. Apaguei. Queria escrever de ti. Para ti. Escrevi e apaguei novamente. Reescrevi e gostei, como gosto de ti. Vou acabar por ficar repetitiva e chata porque esse gostar me rouba as palavras, me esculhamba as ideias e me faz perder a hora do banho que acabo por ter que sair com o cabelo molhado. 

Achei que coração cheio ficasse pesado de gostar. Gostei e ganhei um coração leve. 


De quem se faz presente na ausência


Ganhei um rosto de sorriso no meio do dia, por conta de um beijinho dentro de um son(h)o pequeno.
Ganhei um coração atrapalhado antes de amanhecer, por conta de alguns toques que vinham de longe de quem sempre está perto.
Ganhei um ser ar que mereceria ser um pecado.
Ganhei uma lua inteirinha.
Ganhei um sossego agitado.

Perdi o sono.
Perdi a compostura.
Perdi o ar.
Perdi as palavras.
Perdi tempo, antes de te encontrar.

E que quando abrirmos os olhos ainda seja sonho.




quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Pra ti



Sinta-se beijado


Fecho os olhos e te beijo

        em silêncio

em segredo

        em tântrico.

Um beijo que não deve ficar guardado.

Por não entender Platão



E numa segunda-feira comum te ENCONTREI comigo embaixo do CINAMOMO.
ERAMOS sós e descalços, pisando nas MIÚDAS folhas amareladas falamos de um GOSTAR bonito.

Pequenos PENSAMENTOS pontuados de tamanha SINGELEZA fazem com que um mero SUSPIRO acorde sensações em BRAILE, na PELE e, permaneçam na ALMA.



domingo, 1 de fevereiro de 2015

Esquecimento


A noite emudeceu e no quarto vazio descobri que o resquício da crença na estação de calor que por um descuido meu brotou, esvaiu-se no meio de uma tarde meio chuvosa. Lembrei que não devo acreditar em tudo que leio. Lembrei que romances cabem em livros antigos. Em filmes geralmente em preto e branco. Vi uma folha do plátano novo cair amarela, logo chega o tempo mais ameno e tudo isso por uma certa graça talvez desmerecida mas ainda assim presente, vá embora junto com o excesso de luz dos dias. Os olhos que insistem em procurar por aquele brilho desaparecido agora derretem-se em pura água salgada. É certo que as cadeiras devem permanecer na sombra, como é certo também que a tua fala é um pouco distante de um futuro real. O corpo sempre esquece dos recantos por onde esteve, e partir é um preço que parece estrada vazia. Foi apenas uma vertigem de voz que permanecerá calada até o fim de mais essa estação.


Um PALAVRENTO


Foi uma ausência 
                            ESPERÁVEL,
visto que nos 
                      DESCONVIVEMOS.

Foi uma saudade
                            AMARGUENTA

Um meio tempo de 
                                SENTIMENTALismos

Uma pausa na 
                         EXPERIMENTAÇÃO

De uma coisa nova que
                                       EMBARGALHA

Os olhos e faz com que 
                                       BROTOS DE SAL

Escorram molhados e queiram permanecer.

E no fim sobra apenas um gatinho RONRONANDO  alto sua fome pra mim. Nunca é o que se deveria escrever. Nunca é o que se deveria sentir. Por certo as coisas acabam por se misturar e confundem até as palavras mais simples, e eu que nunca fui dada a entendimentos complexos perco-me diante de tanta fala. Mas é domingo e tudo torna-se PERDOÁVEL. Talvez esteja apenas PLURALIZANDO uma solidão. Ou não. Talvez esteja somente SONADA. 





sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sobre gostar


Gosto de ti
Gosto de gostar de ti
Gosto do gosto que tem esse gostar 
Gosto disso de gostar que fica em mim e vem de ti
Gosto da maneira óbvia que eu sempre soube que gostaria assim
Gosto mais de mim agora que gosto de ti
Gosto de saber que vou gostar ainda mais de ti e de mim por gostar de ti

Porque na verdade eu

Gosto do teu cheiro
Gosto da cor do teu olho
Gosto da intensidade do teu toque
Gosto tanto, mas tanto do timbre da tua voz
Gosto da maneira que escreves
Gosto da maneira que escovas o cabelo antes de me mandar uma foto
Gosto de imaginar essas coisas tuas que ainda não conheço, e gosto.

Gosto de não saber explicar como gosto ou porque gosto
Gosto de ti da maneira mais simples e pura que sei gostar

Gosto de ti e às vezes isso me basta.



segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Afinidade - Arthur da Távola



A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
O mais independente.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias,  as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.

É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo pelo objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.

Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois
que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples
e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos
fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavra.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com.
Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, e não por eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar.
Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.

(...)
A afinidade é singular, discreta e independente,
porque não precisa do tempo para existir.
Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu
o vínculo da afinidade!
No dia que você a vir de novo, você vai prosseguir a relação
exatamente no ponto em que parou.
Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas
nem pelas pessoas que as tem.

Por prescindir do tempo e ser a ele superior,
a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades
ancestrais com a experiência da espécie com o inconsciente.
Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós
para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.
Sensível é a afinidade.
É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.
Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau,
porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.

(...)
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças,
é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quanto das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou,
sem lamentar o tempo da separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada ( tirada ) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais,
a expressão do outro sob a forma ampliada e
refletida do eu individual aprimorado.

Arthur da Távola 








domingo, 11 de janeiro de 2015

O Melhor da Vida - Marcelo Jeneci





 ( e não é? )



Com palavras prontas



" Dos cegos do castelo me despeço e vou
a pé até encontrar um caminho, um lugar pro que eu sou.
E se você puder me olhar, se você quiser me achar,
e se você trouxer o seu lar...
Eu vou cuidar, eu cuidarei dele
Eu vou cuidar do seu jardim
Eu vou cuidar, eu cuidarei muito bem dele
Eu vou cuidar, 
Eu cuidarei do seu jantar,
do céu e do mar,
e de Você e de Mim..."

Os cegos do castelo -


( já não estamos em silêncio. )




quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Sobre medidas de afeto e perdão


O acaso, a vida que morre e seus incontáveis imortais que insistem em ressurgir aqui ou acolá. Essa mesma vida que nos abandona segundo a segundo. Os imortais que vivem sob alguma outra perspectiva. Eu, mortal, tão mortal que já quase inexisto nessas vidas tão auto-suficientes cheias de suas verdades, de tão mortal que sou tornei-me surda. Mortal, falha, fraca, mesmo sabendo do tamanho da força que exigiu meu silêncio naquela hora. Logo tu, que me deste de comer e por tanto tempo me alimentaste com teu até então amor incondicional. Um amor bonito. Agora teu amor é superior, destinando apenas aos mais entendidos, aos mais flexíveis e menos sinceros. Preferia que eu fosse muda, seria agora imortal como tu talvez. Ou quem sabe nada diferente do que sou agora me tornaria a pessoa que tu imaginaste digna para receber teu afeto. 
Morri como morrem os fracos, só pelas tuas palavras. Com a mesma voz que tanta coisa me ensinaste, com a mesma força que tantas vezes conseguiste me fazer entender os erros. Não morri por ti, e, acredite, não morri para ti. Morri dentro do que acredito, minha própria verdade acabou por envenenar-me. Continuo aqui. Morta, longe dos teus imortais, eles agora estão a salvo do que não é necessário falar. Aliás, como falam pouco. Não te preocupes mais, e onde estou agora, aqui, tuas orações não conseguem chegar. Aqui é muito longe da casa que tem cheiro de pão crescendo todas as manhãs de sábado. Aqui e perto demais de tudo que tu não queres ver. Aqui a vida de quem morreu  é muito mais crua e um pouco escura demais para que essas verdades tomem algum contorno em tuas retinas. 
Doeu-me morrer assim. Ainda dói. Assumo toda culpa por essa morte, mesmo que meus dedos travem muito para escrever isso. Assumo que mesmo morta guardo as mais belas lembranças de ti. Sei que jamais entenderas, e que a tua maneira já me perdoaste.
Vó, o que me mata é justamente o que me devolve a vida instantes depois, minha fidelidade com as coisas que vem do coração. Não te pedirei perdão porque não acredito em absolvições divinas. Sou mortal vó. Mortal desde sempre.

( talvez tu tenhas razão e eu não saiba mesmo perdoar, pelo menos não da maneira que tu acreditas, e nem da maneira que tu imaginas que tenha que ser. E talvez eu esteja tentando, mas simplesmente não saiba como fazer. Ou eu tenha aprendido a conviver com isso sem me machucar mais, e isso deveria bastar. )




Balanço Literário 2014



O Skoob propôs um balanço literário das leituras em 2014, achei a ideia bem bacana, e resolvi participar da brincadeira. Os meus eleitos:

1. O melhor livro que li este ano: " A Assinatura de Todas As Coisas " Elizabeth Gilbert. É uma obra escrita com um encanto único. Merece reverências.

2. Surpreendeu positivamente: " A menina que roubava Livros " Markus Zusak. Não sei explicar, acho que é uma daquelas coisas de livro, que ele sabe quem deve lê-lo e a hora certa para isso acontecer. É uma obra fantástica.

3. Surpreendeu negativamente: " O tempo é um rio que corre " Lya Luft. Adoro a literatura dela, mas esse livro em especial sinto que necessito de mais alguns anos para captar sua verdadeira essência. 

4. Abandonei, mas vou dar uma chance: " Israel em Abril " Érico Veríssimo. Aquela velha mania de ler uns três livros ao mesmo tempo e acabei deixando esse de lado.

5. Leitura boa, mas difícil: " Além do Bem e do Mal " Friedrich Nietzsche. Obra indiscutivelmente fantástica, mas proporcionalmente difícil, muito difícil.

6. Chorei de Soluçar: " Em busca da cura " Marcus Fahr Pessoa. Daqueles livros que te mudam para sempre.

7. Divertido: " Bella Toscana " Frances Mayes. Não exatamente divertido e sim delicado, sensível, escrito por alguém de bem com a vida.

8. Próxima Leitura: " Beauvoir apaixonada" Irène Frain. Quem resite a um livro sobre o romance mais intenso de Simone de Beauvoir? 

9. Quero ler, mas ainda não tenho: " Só a exaustão traz a verdade " Ismael Caneppele. Sou apaixonada pela literatura desse gaúcho fantástico. Muita expectativa por esse último livro dele. 

10. Menção Honrosa: Impossível não citar: " O tempo entre costuras " de María Dueñas, " A melhor história ainda está por vir " também de María Dueñas e " As Palavras " Curadoria de Roberto Corrêa dos Santos sobre a obra de Clarice Lispector.