Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

domingo, 28 de dezembro de 2014

Love story - Eric Segal


Que se pode dizer de uma moça de vinte e cinco anos que morreu?
Que era bela. E brilhante. Que gostava de Mozart e Bach. E dos Beatles. E de mim. Um dia quando ela me ligou especificamente a esses tipos musicais, perguntei-lhe em que ordem gostava de nós, ela me respondeu sorrindo: " Alfabética ". Na ocasião, sorri também. Hoje fico a pensar nisso sem saber se ela me relacionava pelo nome de batismo - nesse caso, eu viria depois de Mozart - ou pelo sobrenome, e, assim sendo, o meu lugar seria entre Bach e os Beatles. De qualquer maneira, eu não estava em primeiro lugar, o que, pela mais idiota das razões, me aborreceu, pois eu crescera com a ideia de que tinha de ser sempre o primeiro. Herança de família, sabem como é?
(...)

Estava fazendo muito frio, e isso de certo modo era bom, porque eu estava tão entorpecido que precisava sentir alguma coisa. Meu pai continuou a falar comigo e eu continuei parado, deixando que o vento frio me batesse no rosto.
- Logo que soube, vim no meu carro.
Eu tinha esquecido o sobretudo e o vento frio me fazia doer o corpo. Isso era bom... Bom.
- Oliver - disse meu pai ansiosamente -, quero ajudar.
- Jenny está morta...
- Sinto muito... - disse ele num murmúrio atônito.
Sem saber por quê, repeti o que havia aprendido desde muito tempo com a bela mulher que acabava de morrer.
- Amar é jamais ter de pedir perdão.

Fiz então o que nunca tinha feito na presença e muito menos nos braços dele. Chorei.


Um clichê clássico. Diriam os entendidos que é quase cafona. Gosto dele não pela literatura em si, e hoje também não mais tanto pela história, mas há algo de muito belo no meio dessas páginas já tão amareladas e com um cheiro forte de livro bem antigo. Um belo triste sim, bonito pela simplicidade com que trata o Amor. Esse romance publicado em 1970 vendeu mais de vinte milhões de cópias e foi transformado em filme, não acredito em comparações de artes tão distintas, mas esse é o único caso em que gostei mais do filme do que do livro. Cada qual com seu charme.

Não faço ideia de porque lembrei desse livro hoje, talvez porque seja um domingo chuvoso e eu ouvi Bach, ou porque um amigo falou em programas antigos na televisão e  lembrei de filmes que passavam na sessão da tarde. Enfim foi bom lembrar, cheirar e escrever sobre os Amores que nascem, que morrem e que vivem dentro de nós, estejam eles onde estiverem que estejam bem.

( para ler em um domingo qualquer de chuva, ouvindo Air - de Bach - aus Ouvertüre N° 3 )



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