Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

E no dia da Saudade?



O Sentir da Saudade faz barulho

 ( Quanta coisa que tu nunca saberás. )

Poderia também crer que: O Sentir dá Saudade e faz barulho

  ( Quanta coisa que tu nunca me permitirás entender.)

No meio de tanto barulho de Saudade resta apenas o vazio da Ausência.

   ( e nesse vazio cabe tanta coisa;  permaneceremos. )

                                                                                ***


* E de quem será que foi a ideia de que a saudade escolhe dia?



terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Palavra


   Companheiro, vem do latim - Cum é com, panis é pão. Um companheiro é a pessoa com quem tu repartes o pão.

   Tem como ser mais bonito?

( Do livro Mil dias na Toscana de Marlena De blasi )


domingo, 26 de janeiro de 2014

Confesso que vivi - Memórias de Pablo Neruda


Quando terminei de ler suas memórias, acendi uma vela de gratidão, pela sua Poesia e, por seu Legado. Acho que Neruda ainda respira através de cada verso seu. É imortal;

Ele escreve:
A POESIA

QUANTA OBRA de arte... Já não cabem no mundo... É preciso pendurá-las fora das casas... Quanto livro... Quanto livrinho... Quem é capaz de os ler? Se fossem comestíveis... E se numa onde de grande apetite fizéssemos deles salada, se os picássemos e os enfileirássemos... Mas já não se pode mais... Já nos têm pelo cabresto... O mundo se afoga nessa maré...  Reverdy me dizia: "Avisei ao correio para que não me mandasse mais livros. Não podia abrí-los. Não tinha lugar. Trepavam pelos muros, temi uma catástrofe, despencariam sobre minha cabeça..." Todos conhecem Eliot... Antes de ser pintor... de dirigir teatro, de escrever luminosas críticas, lia meus versos... Eu me sentia lisonjeado... Ninguém os compreendia melhor... Até que um dia começou a me ler os seus, e eu, egoisticamente, corri protestando: " Não os leia, não os leia"... Me tranquei no banheiro, mas Eliot, através da porta, continuava lendo... Senti-me muito triste... O poeta Frazer, da Escócia, estava presente e me repreendeu: " Por que tratas Eliot assim?"... Respondi: " Não quero perder meu leitor. Eu o cultivei. Ele conhece até as rugas de minha poesia... Tem tanto talento... Pode fazer quadros... Pode escrever ensaios... Mas quero guardar esse leitor, conservá-lo, regá-lo como planta exótica... Tu me compreende Frazer"... Porque a verdade, se isso continua, os poetas publicarão somente para outros peotas...Cada um tirará seu livrinho e o meterá no bolso do outro... Quevedo o deixou um dia sobre o guardanapo de um rei... Isso, sim, valia a pena... Ou, em pleno sol, a poesia numa praça... Ou que os livros desgastem, se despedacem nos dedos da multidão humana... Mas a publicação do poeta para o poeta não me tenta, não me provoca, não me incita senão a me emboscar na natureza diante de um rochedo ou de uma onda, longe dos editoriais, do papel impresso.... A poesia perdeu seu vínculo com o distante leitor... É preciso recobrá-lo... É preciso caminhar na escuridão e se encontrar com o coração do homem, com os olhos da mulher, com os desconhecidos das ruas, dos que certa hora crepuscular ou em plena noite estrelada precisam nem que seja de um único verso... Esse encontro com o imprevisto vale pelo tanto que a gente andou, ou por tudo que a gente leu e aprendeu... É preciso perder-se entre os que não conhecemos para que subitamente recolham o que é nosso da rua, da areia, das folhas caídas mil anos no mesmo bosque... e tomem ternamente esse objeto que nós fizemos... Somente então seremos inteiramente poetas... Nesse objeto viverá a poesia...

E depois escreve:

É verdade que o mundo não se limpa das guerras, não se lava do sangue, não se corrige do ódio. É verdade.
Mas é igualmente verdade que nos aproximamos de uma evidência: os violentos se refletem no espelho do mundo, e seu rosto não é bonito nem para eles mesmos.
E continuo acreditando na possibilidade do Amor. Tenho a certeza do entendimento entre os seres humanos, logrado sobre o sofrimento, sobre o sangue e sobre os cristais quebrados. 





( E eu leio e leio e releio, e até me atrevo a colocar reticências nessa leitura... Durma bem Neruda. Durma bem. )



O dia que permanece noite


O cachorro  sem comida
O telefone tocou, não sei quem ligou
O chuveiro pingando em intervalos regulares
A escova de cabelos intocada sobre a penteadeira
Alguma coisa estragou na geladeira
As flores no vaso da mesa estão murchas
Não se ouve nenhuma música aqui
Alguns copos sujos
Um livro fechado.
A chave virada na fechadura impedindo que algum desavisado entre


( perdoe-me hoje é domingo e ainda não estou curada disso de achar tão invivível essa dia )




sábado, 25 de janeiro de 2014




Uma caixinha de guardar sonhos bonitos!


Sonhei contigo


Porque não se acaba, o amor. 
Porque o que permanece,  é sempre amor. 
Porque o que sinto ainda é plural e mesmo em silêncio é eco de um nós, bonito. 

E quando nos sonhei eramos somente pessoas amadas, sem bagagens e sem medida de tempo, apenas nós, vivendo o sentimento de uma forma que só quem teve que esperar sabe como pode ser puro.

O beijo inacabado permanece. 
O tempo marca. 
O amor quando não vivido é belo, doloridamente belo. 

Te guardei assim. De alguma forma te tenho comigo, és meu para sempre. Imaculado. Não esqueço, mas hoje a lembrança é mais próxima. O sonho. Palpável. A saudade nunca é uma ausência. És feito da mesma matéria bonita de tudo que se quer guardar para ser revivido em momentos que só a memória dos travesseiros poderia traduzir. És parte das coisas de dentro. 

( era só para te contar que sonhei contigo e, que foi um sonho bonito.  ) 





domingo, 12 de janeiro de 2014

Deixa-me estar

Estar aqui
Quieta

Estar aqui
Longe

Estar aqui
Junto a delicadeza do que guardei em um livro

Estar aqui 
Dentro 

Estar aqui
É onde sei viver, onde não preciso de calçados e nem de anéis.

Estar aqui é o que me basta. Por hoje só. Por certo estranha e por algum tempo sem atravessar pontes.

( em casa, sem querer mudar a casa de lugar )