Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Attraversiamo


Nunca fez tanta chuva como agora. Um tempo literalmente cheio de tudo que nos secou, agora quase nos afogamos, por dentro ainda mais do que por fora. Somos água, sentimos a liquidez nos curando as feridas na pele do que nos queimou e nunca falamos. Sentimos muito; sentimos a falta de conjugar verbos sempre distantes. Sentimos a distância de todo um oceano, mergulhamos sem nos molhar ao atravessar; tivemos que voltar. Permanecemos do outro lado, sem bagagens. Estamos longe. Partimos. Continua chover e perto de onde estamos há uma ponte que nunca atravessamos. A estação das chuvas sempre nos remete a lugares onde a água não consegue chegar. Estaremos um dia vazios de nossas tempestades?

( O plural não existe, a ponte também não. Só a chuva permanece )


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