Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

domingo, 15 de dezembro de 2013

Bonita





Maresia


E era como se todo aquele mal que o corroía por depois dos ossos lhe escorresse em lágrimas grossas, do mais puro sal. O verde que permanecia na retina agora era líquido, descia lento e morno sobre a pele seca e envelhecida, traçando uma linha triste.
Quando a maré sobe sempre arrasta consigo mais do que se pode ver de alguma janela distante.
Assim seria mais um verão.

Ainda assim estaríamos com frio por causa das roupas molhadas.
O sal sempre machuca. 
E a palavra que prevê a lágrima também.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Um fio de esperança





Dezembro nunca me sorri. 

( o que se pode ouvir é apenas um eco, que permanece preso dentro de velhas latas que nos entregaram quando ainda éramos crianças e podíamos crer inocentemente. )



quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Da orfandade


O que sobra é sempre tão diferente do que permanece. Perdoar vai muito além de esquecer. Depois de deixar as janelas fechadas por muito tempo é tão difícil andar calmamente pelas manhãs onde o sol já toma conta do que antes foi apenas uma penumbra. Nunca os olhos mantem-se tão abertos. É sempre uma visão alterada pela meia pálpebra que cai sobre a retina cansada. Deixa-me aqui. Esqueça e siga. Ou fique e peça-me que saia. Mas fale. O silêncio que entra por entre as veias cria uma dormência que arrasta-se por todo ser de quem sente apenas a frieza das cores mais esverdeadas. O sangue que sempre dividiu-nos, a proximidade que insiste nos afastamentos. O tempo que não te muda. O instante das palavras duras que quebram até o que parecia imune à tamanha pequenez. O medo do que fica sobreposto, a  formalidade desnecessária. Acho que não tenho foto alguma contigo. Sigamos.

( E há quem duvide da previsibilidade das coisas )


terça-feira, 22 de outubro de 2013

O mapa rasgado


Voltando
Ou talvez fugindo pela direção contrária. Um avesso a tantos caminhos seguros, uma peregrinação solitária. Sem centro e sem buscar o norte de qualquer lugar. Como um não saber andar. Tantos passos com um mesmo sapato que a pegada já nasce deformada. Sem cercas e sem faixas de pedestres, por certo um caminho nada seguro. Uma busca perdida. Uma má sorte de ascendente em câncer e lua cheia em outubro. Um longo passeio entre tudo que ainda não é. As placas marcam uma direção invertida, melhor seguir a intuição, mesmo com as peças que sempre costuma pregar. Encontrar um lugar para curar a insônia ou que pelo menos o travesseiro estivesse vestido com a fronha de margaridas suaves, já gasta pelo tempo e com as marcas de um sono que demora. Um lugar para escrever tudo que a garganta não deixa passar, um tanto a deixar para trás. Existir longe desses passos que todo dia ecoam por sobre nossas cabeças na forma de alguém que não foi convidado a entrar. 


Besouros que alimentam-se de pó e olhos coloridos


É sempre um trabalho exaustivo arrumar as gavetas. Fica tanta coisa no fundo de algumas delas que acabam encobrindo a lucidez, a poeira acaba por tapar a coerência e o que nos resta é sempre muito pouco. Nunca o suficiente para que os vidros tenham um aspecto um pouco mais limpo pela manhã. É sempre algo difícil de se tirar; do fundo das gavetas e das superfícies lisas das janelas. Esse acúmulo permanece nas entranhas e corrompe a circulação das pernas, os pés permanecem gelados, não nos levam mais aos lugares claros. A retina também sofre com a poeira. Embaçamento. Sempre há algum besouro seco no meio de tanta coisa guardada, como se fizesse parte de um relicário à essa desordem humana que me consome. Movimentar mãos algemadas é doloroso. Correntes sempre machucam mais do que as cordas e são imensamente mais difíceis de soltar, e os olhos verdes sempre ficam na mesinha de cabeceira, dentro de um copo com água para manter a umidade e a lembrança do que ainda está por vir. 




domingo, 20 de outubro de 2013

A sombra pisada ainda dorme no chão


Já se passaram quatro dias do teu aniversário. É como se tivesse esquecido. Quase impossível permanecer indiferente. Teria te comprado um livro. Seria apenas mais um livro e quatro dias é muito tempo para um atraso. Teria te desejado felicidades, tive medo de imaginar como foi teu dia. A memória das xícaras, e em um momento egoísta quis que estivessem guardadas no fundo do armário e que tu nunca tenhas servido café à ninguém nelas. Queria que teu café tivesse terminado; Poderia te encontrar no mercado. Não teria mencionado a data. Seria inevitável não nos situarmos no tempo. Aquele mesmo tempo que perdemos entre agendas lotadas de vidas inacabadas. Restamos inteiros, porém vazios.

( possivelmente outro calendário se faça sem que tua marca esteja no dia de outubro )


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Quando o engano tenta modificar-se


Os dias seguem uma certa rotina, já percebem-se flores caídas dos ipês, o frio parece ter nos deixado em estado de torpor, o mesmo torpor que nos mantém acordados. Uma réplica de vidas fragmentadas por mãos que desconhecem a profundidade por depois da pele do peito. Já amanhece mais cedo, e não acreditamos mais em segundas chances. A simetria do erro. Palavras soltas. Sempre é mais difícil adentrar uma nova estação pisando sobre antigos dias molhados de uma água salgada tão familiar a quem tenta viajar sem bagagens. Seria um engano imaginar que a mudança poderia acontecer em meio a tantas correntes.

( Seria um erro ainda maior acreditar que olhos verdes podem ver além da janela com tela )


terça-feira, 1 de outubro de 2013

É que talvez esperar seja verbo para ser conjugado no plural


Outra promessa e mais algum tempo. Agora temos um espaço entre alguns dias, ainda assim é só uma véspera, uma antecipação de algo que pode não ser, ou ser de alguma forma inesperada. É só um tempo de esperar e, acho que aqui cabe um pouco de tudo que deixamos em um passado não tão distante, tudo que ficou naquelas entrelinhas, o que fomos de mais bonito. O que tivemos e nunca nos pertenceu.  Nos resta esperar que a chuva nos molhe dessa vez e que a relatividade do tempo possa nos perdoar depois. 




sábado, 28 de setembro de 2013

Ame o que é seu - Emily Giffin


O que mais gosto na literatura de Emily Giffin é que os personagens parecem ser nossos velhos conhecidos, gente simples, mas nunca de vida simplória. Os dilemas são colocados de maneira tão autêntica. É sempre uma boa leitura, quando se quer desopilar.
Esse romance gostei especialmente por causa do tema: escolhas e suas consequências. Passado e futuro sempre juntos. 

O último trecho do último capítulo achei bastante carregado da sentimentalidade charmosa que o livro passa:

"(...) No presente, eu fecho os olhos conforme o avião ganha velocidade na pista e decola para alcançar os céus. Eu perdi o medo de voar -  pelo menos não me sinto mais tão mal quanto antes - mas meu coração ainda dispara, com a velha e conhecida ansiedade, misturada às lembranças do passado. Essa é a única ocasião em que o Leo ainda me vem à cabeça. Talvez por conta daquele voo noturno que dividimos ao voltar de Los Angeles. Talvez porque seja possível olhar para baixo e identificar o prédio dele da minha janela, o lugar onde o vi pela última vez, há exatos um ano e um dia.
      Desde então, nunca mais nos falamos. Eu não retornei nenhuma de suas ligações. Nem mesmo quando enviei a ele as fotos de Coney Island, incluindo a que tirei dele na praia. Cheguei a pensar em lhe dizer algo. Acrescentar um bilhete. "Obrigada... Sinto muito... Vou te amar para sempre."
      Tudo verdade - continua sendo, aliás -, mas melhor que ficasse assim, por dizer. Da mesma forma que decidi não confessar ao Andy o quanto estive próxima de perder tudo. Em vez disso, guardo aquele dia só para mim, como um lembrete de que o amor é uma soma de nossas escolhas, o vigor do nosso compromisso, o laço que nos une. Feliz comigo mesma que amo tudo que é meu."



(perfeito para ler no início da primavera, em um final de semana chuvoso, ouvindo Ronan Keating.)





Tem gosto de pêra


-Como é que ela é? Que gosto tem?
-Descreva, como Hemingway.
-Bom, tem gosto de... pêra! Não sabe que gosto tem uma pêra?
-Eu não sei qual gosto você tem da pêra!
-Doce, suculenta, macia ao paladar, granulosa, tipo areia doce dissolvendo na boca! Que tal?
-É perfeito!

( Cidade dos anjos )








sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Nerude-me ( as cerejeiras passam também pelo outono no outro hemisfério )

O poeta escreveu que deixamos de amar pouco a pouco, e que deveríamos esperar a recíproca.
Gosto mais da parte que ele fala sobre em um dia dar-se conta de estar destinado um ao outro. A surpresa velada entre a promessa e a espera. O que fica encoberto pela aparência do que nunca nos será exposto.

 Impossível não lembrar. 

É sempre uma ilha no poema e, aqui permanece a impressão de que a água salgada nos rodeia, mas só pisamos em areia seca.
Lembra-te que não nos molhamos? 

Por que parece que sempre passo sob as cerejeiras na estação errada? E se o poeta estiver certo e tudo acaba mesmo em tempo igual? 

( Mesmo que agora não possamos ver as flores, alguma coisa ainda é latente. E hoje fez vento que carrega chuva. )





quarta-feira, 11 de setembro de 2013



É quando acordamos que o sonho morre...

Deveríamos ter permanecido mais tempo de olhos fechados!




Quando faz sol aqui


Mesmo que o chá esfrie e agora faça calor fora de época, ainda assim será um tempo difícil de entender, talvez não tanto pelo que acontece, mas pela ausência de acontecimentos. Nenhuma palavra pode ser definitiva, mas também nenhuma volta. O que não sabemos é nosso maior refúgio, estar distante é mesmo o mais correto. Nada pode deixar de ser, as impressões quando não estão na pele cabem no papel, ou na água salgada. Tudo só pode ser ou é, quando podemos tocar, do contrário é como nuvem, e existe uma certa beleza na tempestade. Inevitável lembrar, pura distração, ou apenas uma forma de tentar aproximar o que nunca permanecerá.

( Existe algo por trás do azul que eu nunca saberei o que é )


Porque tudo que fica permanece do outro lado ( mesmo que não tenhamos saído daqui )


Hoje eu teria bebido vinho e lido alguns poemas tristes, depois de tomar banho; e não teria deixado nada para depois, mesmo que tu nem soubesse quais são os poemas. Teria os escrito em papel branco com caneta preta, quase uma carta; mesmo que tu não a recebas. Teria tirado os cobertores da cama, mesmo que fosse frio; nada aquece o que fica esquecido por dentro. Agora é verão onde já não habitamos. Teria colocado o vinho em duas taças, mesmo que fosse distante. Hoje é só um daqueles dias em que tudo o que não se vive cabe dentro de um peito vazio. Hoje é só um dia onde não se pode viver. É um tempo errado, onde não cabem conjugações, não existem verões desse lado do mundo.

( Hoje eu teria sentido tua falta )




segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Im Pensada

 
En Cantada
      In Acabada
En Amorada
      In Finita
En Cabulada
      In Ventada
En Caminhada
      In Animada
En Sacada
      In Alterada




(Quando o dia entardeceu)



Me encantam os sotaques, o italiano mais que todos, mas as músicas portuguesas são do céu!


A arte de ser leve - Leila Ferreira




  Li esse livro no último sábado. Confesso que escolhi pelo conjunto capa + título + intuição boa; não conhecia a autora e nem tinha lido nada à respeito da obra. E foi uma leitura deliciosa do início ao fim.

  A jornalista e escritora Leila Ferreira, discute temas como gentileza, felicidade, desaceleração e bom humor com uma sensibilidade ímpar. Dei muita risada e por vezes me emocionei durante a leitura. Como sugere o título, um livro leve, mas que consegue ser profundo o suficiente para provocar boas reflexões.

  Não é de maneira alguma um livro de auto ajuda, e sim uma reunião de entrevistas com pessoas que criaram maneiras de tornar suas vidas e a vida em seu entorno um pouco menos carregada. Pontuada de exemplos concretos do bem que a dieta pode fazer ao espírito, a autora viaja por entre os vários caminhos possíveis para tentar chegar ao ponto escolhido com um pouco menos de bagagem.

*
" Há tempos brinco com minhas amigas obcecadas por dietas sobre o perigo que corremos de emagrecer o corpo e ficar com obesidade mórbida no espírito. Corpos rígidos e enxutos, construídos com disciplina mais do que espartana, circulam num mundo cheio de almas adiposas, engordadas pela autocomplacência. Com o corpo, todo rigor é pouco, mas nos perdoamos com enorme facilidade por nossa impaciência, nossa falta de civilidade, nossa incapacidade de ouvir, nossa rispidez. Achamos natural agir de forma desagradável com os outros porque estamos estressados. Mas nossos comportamentos vão deixando o mundo mais estressante. E não são apenas os outros que nos rodeiam que saem perdendo. O peso na alma afeta profundamente a pessoa que o carrega - ainda que não perceba. Seres que passam a vida arrastando correntes são infelizes. Almas gordas, mais do que intoxicar os outros, intoxicam-se.
*

Um livro para começar ler em uma manhã qualquer.





domingo, 1 de setembro de 2013

A perfeição do que pode ser guardado




Eu levo seu coração comigo
( eu o levo em meu coração )
Eu nunca estou sem ele
( a qualquer lugar que eu vá, meu bem, e o que quer que seja feito por mim somente é o que você faria, minha querida )

Tenho medo

Que a minha sina
( pois você é minha sina, minha doçura )
Eu não quero nenhum mundo
( pois bonita você é meu mundo, minha verdade)
E é você que é o que quer que seja o que a lua signifique
e você é qualquer coisa que um sol sempre vai cantar

Aqui está o mais profundo segredo que ninguém sabe
( aqui é a raiz da raiz e o botão do botão e o céu do céu de uma árvore chamada vida, que cresce mais alto do que a alma possa esperar ou a mente possa esconder )
e isso é a maravilha que está mantendo as estrelas distantes.

eu levo o seu coração ( eu o levo no meu coração )

E. E. Cummings



sábado, 31 de agosto de 2013

Silenciosamente atemporal


Tento ser silêncio, e em silêncio entender o que é impossível em meio a tantas palavras perdidas de discursos absolutamente vazios. Tanta coisa subentendida, tanto a aprender ainda. Tanto para ser revisado. E pensar que passamos a vida tentando ter razão.

Penso em ter cada vez menos razão e cada dia mais tempo para ter tempo de me afastar da temporalidade. Perder a medida e a pressa. Girar no sentido anti horário e sem qualquer pretensão caminhar como os nômades. Em silêncio dessa vez;





Toda Poesia




Três itens absolutamente encantadores nesse livro:

- É Leminski, o que dispensaria qualquer outro comentário acerca de sua grandeza e intensidade;

- Tem apresentação de Alice Ruiz, que começa dizendo assim: Este livro é antes de tudo uma vida inteira de poesia. ( Tem como ser mais perfeita no seu trato com as palavras?)

- Chegou pelo correio, como presente do meu amigo anjo, e com dedicatória: 

26/03/2013
Querida Michele, que este livro te leve para um mundo mágico, de rebeldia, contestação e principalmente muita coragem. Torço por você! Beijo.

Bem, foi exatamente isso que aconteceu lendo, aparece o mundo mágico e o que permanece depois é coisa para sempre. É afago da classe das mais importantes. Como diz Alice, a parte analítica critica deixamos para os profissionais, como amante da Poesia só posso agradecer pela ideia de reunirem toda escrita de uma vida em um único volume; de resto só sei que presentes assim vão direto para alma e só tenho à agradecer novamente, mas agora de coração.

*
Aqui, poemas para lerem, em silêncio,
o olho, o coração e a inteligência.
Poemas para dizer, em voz alta.
Poemas, letras, lyrics, para cantar.
Quais, quais é com você, parceiro.
*


( Li o livro na mesma semana que o recebi, mas me faltava conseguir expressar com clareza e fidelidade )



sexta-feira, 30 de agosto de 2013


Então agosto ganhou um dia Bonito! 


Puro encanto


Imagine alguém encontrar teu poema favorito e numa quinta-feira qualquer de um inverno bonito e chuvoso, à tarde, em um café com os vidros embaçados pelo calor que vem das xícaras, tu ouvi-lo bem baixinho traduzido para o idioma que tu adoras?

( só pelo prazer de suspirar em um dia comum )


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Attraversiamo


Nunca fez tanta chuva como agora. Um tempo literalmente cheio de tudo que nos secou, agora quase nos afogamos, por dentro ainda mais do que por fora. Somos água, sentimos a liquidez nos curando as feridas na pele do que nos queimou e nunca falamos. Sentimos muito; sentimos a falta de conjugar verbos sempre distantes. Sentimos a distância de todo um oceano, mergulhamos sem nos molhar ao atravessar; tivemos que voltar. Permanecemos do outro lado, sem bagagens. Estamos longe. Partimos. Continua chover e perto de onde estamos há uma ponte que nunca atravessamos. A estação das chuvas sempre nos remete a lugares onde a água não consegue chegar. Estaremos um dia vazios de nossas tempestades?

( O plural não existe, a ponte também não. Só a chuva permanece )


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

domingo, 18 de agosto de 2013

Bonitalbeto



Pensei em palavras bonitas. Achei AFETOS, que é bonito e começa com A, que pode ser um bom começo começar por onde começam as palavras. BONITO também é uma palavra tão bonita, de ver e ouvir, é palavra mista, mas tem BEIJO que é tão BOM. CAMINHO, deve ser bonito porque é por onde as palavras te levam. DEVAGAR, que pode ser tão somente o estado quase estático das coisas e soa às vezes como um De Vagar por entre tantos algos, quase como um DEVANEIO, e De repente aparece tanta palavra bonita que começa com D. EMOÇÃO, que é palavra que ri e que chora, fica ENCANTADA. FEIJÃO porque é grão que tem umbigo. GENTE de todo tipo, que GENTILMENTE passa por nós. HERMETICAMENTE é palavra que eu achava tão complexa quando pequena, entendia que o que estava fechado assim jamais respiraria novamente. IRMÃO acho palavra difícil de lidar. INSPIRAÇÃO é quase um desejo.  JAMAIS é palavra tão grande que fica mais bonita quando cabe subentendida. LAMBIDA de cachorro ou de sorvete, é sempre palavra do bem. MAMÃE é palavra MACIA, duas coisas que combinam em BONITEZA que é palavra inventada por gente enfeitada. NATURALMENTE bonita. OPA! Um PARA SEMPRE é coisa difícil de acreditar, mas com certeza bonito. QUERIA; tudo queria sem tanto querer, que parecia indecisão, mas era QUERIDA. Palavra RARA é RICA. SAUDADE é um apego que por vezes incomoda, mas acaba por ser inacabável  no peito de quem sente. TEU é esse peito que eu falo que sente. UNIVERSALISMO é a energia da minha fé, FÉ que também é palavra bonita, mas achei que ficaria bem difícil combinar ela com o UMBIGO do feijão, mas tudo bem colocar ela agora aqui, mesmo fora de ordem? VERDADE é bonita PURA, mesmo que ande em extinção. Quero ver achar palavra bonita com X, deixa substituir e usar somente a sonoridade da CHUVA que é palavra que quando acontece deixa a grama e o vaso de CHÁ bem felizes. ZENAIDE era o nome da minha vó e da bicicleta do Chico que foi roubada. 

sábado, 17 de agosto de 2013

Para os que pensam em chegar


Tudo acontece pelo caminho. 
E há de se querer apenas caminhar mais devagar, 
sem tanto buscar um lugar para estar, 
tão somente caminhar sem destino algum, 
e algumas vezes poder perder-se por entre todos esses passos. 

Um somente ir e vir.
E encontrar o encantamento do que não permanece parado,
o movimento dos verbos contidos em caminhar,
tantas coisas passadas por entre cada ruela de um caminho
que busca sua própria direção.

Quem disse que estamos indo para o norte?



Nem toda casa tem portas






E toda alma conhece o caminho de casa.


Um dia





- Pensei em planos hoje logo cedo; a caminho de casa demorei um pouco mais do que o habitual. Acho que não tenho grandes planos. Rego algumas plantas. Faço bolo de maçãs. Cuido dos meus gatos e do cachorro. Quando chego quero roupas macias e um pouco de café. Depois um banho, puro, pode ser rápido, mas que seja quente; sim, café e banho, os dois puros e os dois quentes. Os dois sempre. Para tudo que o dia insiste em acumular, lavar o rosto é quase que ritualístico. Um bom dia é quando sobra um  tempo para dormir depois de ler, importante poder dormir depois de ler; fica mais fácil de sonhar ( isso parece um plano ). Antes de dormir uma oração pelos que amo, um beijo em cada um deles também.

- Então acho que por hoje era isso. Parece pouco mas é o bastante. 







Carinho de Nona com chá de funcho faz dia cinza bonito!

( Porque nem toda dor é física e alguns remédios vêm em xícaras de porcelana antiga. Para sentir o amor basta tomar pequenos goles de um abraço que sempre está lá.)


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Dorme agora


E o direito de sonhar nos traz o encantamento de emoções que aparentemente nunca dormem.

Acorda e Sonha.

Dorme e verbaliza o que fica por entre todas as vontades de uma existência pontuada pela insônia.



Pelo encantamento de te sonhar


E no meu sonho uma parte de nós se encontrava,
mas logo o dia chega e nos exila em um lugar que não é aqui;
onde não somos mais aqueles que o inconsciente insiste em enfeitar.

Mas pelo mistério do desejo o plural se fez doce.
Se fez tu perto.
Poucas  palavras e um cenário com imagens palpáveis.

No sonho todos os tempos são possíveis,
e mesmo que não exista nem eu e nem tu
estávamos lá.






Dias de Agosto




É sal, a gosto.  
Um erro de medida, sem gosto. 
D'alma a contragosto.

Insondavelmente dias em um tempo de estarmos do lado de fora de tudo que nos acontece e, quem sabe estarmos a salvo dessa constante e monótona repetição cabalística de um calendário com doze sóis e uma única sombra sobre passos que ficam guardados em sapatos já gastos por esse mesmo tempo, antigo. Pegadas quase apagadas em terra úmida de um inverno frio e sombrio, flores desbotadas e nenhuma folha, marcas de uma estação que dura pouco mais de um mês, mas definitivamente demora. Passa em demorados lapsos de luz, entre uma hora e outra; entre estradas que perdem seu caminho e não levam a lugar algum. 

Passa mas insiste em ficar, e nem sempre é possível sair daqui;

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Sobre o inexplicável


Tem amigo que é mais que amigo,
que pergunta como pode sentir saudades assim... no meio da tarde
e é só amigo.
Mas não só um amigo, é amigo anjo
daquele que pede como pode mesmo longe sentir perto;
é amigo que questiona como pode ser tão amigo.
Mas é anjo, que se fez de amigo e pede explicação espiritual
só anjo amigo preocupa-se assim.
Não tem como definir corretamente, pelo menos não como amigo assim merece,
é como se ele estivesse sempre um degrau acima na hierarquia da amizade.
É amigo que emociona, que faz coisas que deixam os olhos marejados, e
a garganta com um nó que vem lá do céu.
Mas é amigo e é anjo.
Sabe escolher os livros que precisamos ler
e quando chega o envelope do correio, cada dedicatória é um carinho diferente.
Carinho de anjo que se fez amigo; ou amigo que tornou-se anjo;

Quando tu me pedes para explicar, acho simples.
Do pouco que sei, sinto-me grata, e em débito
sou só amiga, na escala humana, aprendendo contigo.

( perdoe-me amigo, o tempo dos anjos tem outra medida e eu ando sempre atrasada.)




segunda-feira, 17 de junho de 2013

Literal(mente)


Entro e fecho a porta, não tenho chaves.
Deito. Não durmo e o livro me basta. Agora sou outra história.
Outro lugar. 
Qualquer lugar longe daqui.

Moro nesse livro que me abriga e afago essas letras.
Fico à margem de mim, sou apenas as bordas do eu que está lá fora.
Não sou quem escreve. Sou quem lê.
A textura de cada página. O cheiro.

Piso em paisagens bucólicas e vejo céus invernais.
Sempre é mais bonito o inverno. Alguns outonos cabem.
Poucas cores. Quase sempre chove. 
Um tempo bom.

Mentiras literárias.
A melancolia não gosta de portas abertas.





Um fio, um nó



E remenda
e tenta
e arruma
Alinha.

E ata
até o que não é de atar.

E costura
o que rasga
o que esgaça
Retalha.

E guarda
até o que não é de guardar.

E enfeita
ou desfaz
ou amassa
Esquece.






Que lugar é esse?




Sobrou um espaço sem palavras, letras avulsas saltam como soluços entre um café e outro. Algumas frases reféns de um invento fora de lugar caem sobre o papel e dançam meio que sem graça jogadas assim sem nem mesmo a coerência de uma vírgula. Um verso vazio em meio às folhas secas e as palavras correm em uma outra direção. Folhas caídas, letras submersas em uma calma que não é daqui. Não amanhece nunca.





Longe daqui choveu.

E não nos molharemos
 não juntos
não pela mesma nuvem
não no mesmo tempo.

É sempre muito longe quando chove.


  




sábado, 18 de maio de 2013


Somos o esquecimento. Feitos de matéria que acaba e sem que nada mude a inexistência nos ocupa. O espaço do que nos coube torna-se o vácuo de alguma sombra. A própria temporalidade; quase palpável. Uma desconstrução. O eu improvável que prende-se entre o permanente e o vazio. Vertigem em espiral. O verbo e o fim. A perda. Um eco de toda distância que foge do compreensível. Chove muito pouco para um outono que pretende acontecer mesmo sem que estejas aqui.


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Poesia cantada


Daqui desse momento
Do meu olhar para fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego, atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurre em meu ouvido
Só o que me interessa

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa





terça-feira, 30 de abril de 2013

O instante mudo


Vivemos uma miragem de futuro
Agora o assombro de um quase passado
Do que ainda não passou
A pausa no tempo de ser plural
O acaso longe das mãos





Pra ti que espera paredes



De todos os mundos possíveis quero estar contigo onde nos molhamos!



quinta-feira, 25 de abril de 2013

Qual é a tua Obra?


Qual é a tua Obra - Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética de Mario Sergio Cortella, bem, com esse título confesso que não é exatamente o tipo de livro que eu compraria assim sem motivo. Mas engraçado como as coisas acontecem. Vi em uma postagem de uma rede social e acabei me interessando ( e muito ) pela leitura, passados alguns dia eis que surge o livro em um sebo virtual,  (era para mim )... Porque acredito que os livros escolhem seus donos.

O fragmento:

" Você é um entre 6,4 bilhões de indivíduos pertencente a uma única espécie, entre outras 3 milhões de espécies classificadas, que vive em um planetinha, que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrela que compõe uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis que vai desaparecer." 



Um livro para ler quando estiveres te sentindo acomodado.



terça-feira, 23 de abril de 2013

O Lustre de Clarice Lispector


O Lustre de Clarice Lispector, vai estar sempre entre os melhores livros que li; não saberei escrever algo sobre ele, apenas que é de uma intensidade ímpar, denso e surpreendente. Sublinhei a maior parte de vários capítulos, reli incontáveis vezes; é tão marcante em seu universo de detalhes que uma única leitura nem sempre é o suficiente. Foram necessários quatro meses para concluir a leitura, não que o livro seja extenso, mas não conseguia ler sem parar um pouco para assimilar a grandeza daqueles escritos e voltar para reler, como se fosse preciso mais atenção para entender a subjetividade da história. 

É imensurável minha admiração por Clarice.






segunda-feira, 22 de abril de 2013

Quando a pele sente uma véspera


O arrepio chegou pela mão, passando pelo braço afastou os pelos, foi embora pelas costas em um instante de pressa. Acontecia à minha direita. Um sinal. Presságios assim leem a carne sem deixar rastro. Um silêncio frio. Vento gelado que rasteja narrando um tempo que está por vir. Uma véspera. Um descuido do invisível que deixou-se sentir. Sinestesia.


Amor fora de Hora, um romance


E entre um livro de assunto sério e outro, é sempre bom uma pausa para uma leitura descomprometida e gostosa. Pelo menos é assim que acontece comigo, enquanto leio um livro mais complexo, leio outro um pouco mas leve, parece que encontro um equilíbrio assim.

Amor fora de hora é exatamente esse tipo de livro, leve, divertido, inteligente, bem humorado, um romance delicado, daqueles que nos fazem sorrir ao final de cada capítulo.

É a história de uma bibliotecária viúva, elegante,  jovem e muito culta que apaixona-se por um fazendeiro daqueles bem broncos, rústico, que não gosta da vida na cidade e nem entende nada de literatura. Juntos tecem um romance pontuado de situações hilárias e bastante reais.

O cenário do encontro não poderia ser mais inusitado, o cemitério, onde estão enterrados o marido de Desirré e a mãe de Benny. Não é um romance comum, Um choque de culturas, um amor terno e espontâneo. Digamos que seja bastante agitado. 

Literatura Sueca moderna da melhor qualidade. A autora Katarina Mazetti já foi professora, jornalista e radialista, é autora de 20 livros e Amor fora de Hora é seu aclamado sucesso internacional. Traduzido para 28 idiomas, filmado na França e se tornou musical.

Um livro para ler em um final de semana de verão.



Fragmentos:

"  Tiro minha agenda do bolso. É um caderninho azul com encadernação firme e sobre o qual, no lado da frente, há uma ilustração de um barco a vela sobre um mar reluzente. E ai então escrevo:
  -Com certeza as bordas das feridas lutam para se fechar, até o relógio quer que lhe deem corda...
  Na verdade, eu não acredito que estou fazendo " poesia" em minha agenda. Estou apenas tentando apanhar a vida em imagens. Faço isso todo dia, mais ou menos assim como outras pessoas escrevem listas de tarefas para organizar o dia a dia. Ninguém precisa ler isso um dia - eu também não conto às pessoas sobre os meus sonhos. Cada um tem seu próprio método para dominar a vida. "

"  Naquele outono, li autobiografias e livros de fantasia que, na melhor da hipóteses, tinham um efeito anestésico - como se eu mergulhasse em mundos desconhecidos. E quando, de repente, os livros chegaram ao fim, fiquei deitada cansada e trêmula no canto do sofá, como depois de um naufrágio jogada na margem, à beira-mar. As biografias e os mundos de fantasia me faziam perguntas: Por que você está viva, o que faz da sua vida, tão frágil, incontrolável e curta? "

" A vida ficou muito pequena para mim. Eu poderia ter uma nova. Não faz mal que se for de segunda mão."

" Remendar bolhas de sabão arrebentadas e fazer bonecas sorrirem pode levar algum tempo."












e naquela folha branca pariu uma carta que não era para ser lida.



domingo, 21 de abril de 2013

Diário de uma bipolar


Comprei esse livro em um sebo virtual. Acho um assunto interessantíssimo e muito atual. Em tempos de moda, inclusive comportamental, a bipolaridade já esteve um pouco mais em voga do que agora, e mesmo assim continua sendo considerado " chique " ser bipolar. ( coisa de estigma ou a mais completa falta de informação).

Cineastas como Coppola, Tim Burton e Lars Von Trier, os atores Elisabeth Taylor e Jim Carrey, e os cantores e compositores Tom Waits, Robbie Williams e Axl Rose sofrem de trastorno afetivo bipolar. Salvador Dali , Marilyn Monroe e Elvis Presley também eram bipolares, mas em sua época, a doença era equivocadamente chamada de psicose maníaco-depressiva. A atriz Carrie Fisher - a princesa Leia de Guerra nas Estrelas - escreveu um livro sobre o assunto, The Best Awful, onde relata suas vivências. 

Mas enfim sobre o livro: 

Mariana W. faz um relato muitas vezes bem humorado sobre sua relação com a patologia, conta em detalhes como a doença a influenciou durante muitos anos até encontrar o equilíbrio. Em uma narrativa sincera e carregada de autenticidade leva o leitor a conhecer um pouco mais desse universo entre a fase da mania e da depressão profunda.

Mariana relata que sofreu muito até aceitar sua condição. Perdeu convívio com pessoas amigas, prejudicou a educação de seus filhos, passava muito tempo ausente. Tudo isso alternado com períodos em que simplesmente não podia levantar da cama. Uma vida completamente dominada pela doença.

Pedro Bial escreveu um texto sobre o livro, o título é uma Dor inominável, ele cita:

" Quando alguém tem uma gripe, uma dor de barriga, uma costela quebrada, não há dúvida: procura-se um médico, toma-se aspirina, vitamina c, purgante, busca-se o conforto dos mais próximos. Os males da alma, as afecções mentais, não - através dos tempos. foram matéria para varrer para debaixo da trama neurótica familiar. Só hoje, no alvorecer do século XXI, o preconceito, o obscurantismo e a ignorância começam a perder terreno para a luz e a tolerância. Graças a livros como este, que aborda de maneira honesta e acessível a questão do parecer psíquico, da tortura emocional. "

Mesmo com a seriedade do tema, não é um livro triste e muito menos uma leitura " parada". Um livro para ler em poucos dias.




Orvalhadas





E se não Deus, quem é que vem regar essas flores nas madrugadas?
Que será que ele pensa enquanto as embala em um sonho de chuva?





sábado, 20 de abril de 2013

Envelope Azul

Estava com saudades de escrever sobre os livros que li, e casualmente nesse período que fiquei sem escrever li muitos.

Em uma quinta-feira comum recebo inesperadamente um envelope grande, azul, bonito. Era metade da manhã e dentro do envelope estava uma edição incrível de Olhai os Lírios do Campo. Uma edição especial de 73. Adquirido em um sebo, não tem dedicatória, mas havia tanto carinho naquele presente que entrou automaticamente na lista de coisas mais bonitas.

Presente de um grande amigo que está morando em Santa Catarina. Gaúcho, gentil, culto, inteligente, sensível e gremista. Grande entendedor de músicas e cozinheiro. E com um gosto impecável para presentes.

Sobre o livro: Muito já foi escrito e resenhado sobre ele, enfim eu apenas acrescentaria: Não deixe de ler Veríssimo.



Um dos trechos de que mais gosto de uma das cartas escritas por Olívia:

" Procurar nossa felicidade através da felicidade dos outros - aconselhava Olívia noutra carta sem data - Não estou pregando o ascetismo, a santidade, não estou elogiando o puro espírito de sacrifício e renúncia. Tudo isso seria inumano, significaria ainda uma fuga da vida. Mas o que procuro, o que desejo é segurar a vida pelos ombros e estreitá-la contra o peito, beijá-la na face. Vida, entretanto, não é o ambiente em que te achas. As maneiras estudadas, frases convencionais, excesso de conforto, os perfumes caros e a preocupação de dinheiro são apenas uma péssima contrafração da vida. Buscar a poesia da vida fora da vida será coisa que tenha nexo? "

Outras passagens bonitas:

"- E agora? - perguntou Eugênio.
Olívia encolheu os ombros.
- A vida continua.
- Eu sei... Mas é nós? 
- Continuamos também."

" - Há dias inesquecíveis na vida da gente. "

" Aquela noite era um mundo, aquela noite era uma eternidade, ele nunca, nunca mais teria de esquecê-la."

" - Pouco ou muito açúcar?
- Assim está bem. 
Ela lhe passou a xícara.
- Biscoito?
- Obrigado.
Serviu-se.
- Está bom?
Ele sacudiu a cabeça afirmativamente e logo após perguntou:
- Pode-se molhar o biscoito no chá?
- E lamber os dedos se quiseres."

" - Olívia, tu... tu me amavas?
- Cego! "

O trecho final da última carta escrita: 

" Antes que me esqueça, na gaveta da cômoda há um maço de cartas que te escrevi de Nova Itália expressamente " para não te mandar". Agora podes lê-las todas. Não encontrarás nada do meu passado, do qual nunca te falei e sobre o qual tiveste a delicadeza de não fazer perguntas. É uma pena. Gostaria que soubesses tudo, que visses como minha vida já foi feia e escura e como lutei e sofri para encontrar a tranquilidade, a paz de Deus.
  Adeus. Sempre aborreci as cartas de romance que terminavam de modo patético. Mas permite que eu escreva.
                                                                               Tua para a eternidade.
                                                                                                                          Olívia."

Quando Carlos Alberto Iannone escreve sobre a obra de Veríssimo fala: Olhai os Lírios do Campo é uma história " de ternura e compreensão humana através do amor ". Ele tem razão.







Sentes?




Um sentir 
ou 
  Um pulsar?




quarta-feira, 3 de abril de 2013

De quando as folhas são tapete


Eu nunca te contei, mas em uma manhã de outono eu te casei comigo,
éramos eu e tu e um plátano. Simples e brancos.
Tiramos os sapatos, o chão era feito de um futuro bonito.

( ainda é outono, e as manhãs são possibilidades, mesmo que tu não saibas! )





segunda-feira, 1 de abril de 2013

Do que já não alimentamos o amor





 ( Para mim )

                                                         
                                                        ( Para ti que não gosta dos figos )


( Para nós quando escrevíamos sobre as manhãs de domingo )





domingo, 31 de março de 2013

É que Adeus é uma palavra grande demais




No fundo eu sabia que com a mudança da estação e a chegada dos dias mais frios o enveludamento dos recentes sentimentos finalmente poderia ser traduzido em letras.

Penso que deves estar pintando as paredes da sala agora, cores claras e  enquanto providenciavas uma lâmpada provavelmente tenhas pensando em nós, na verdade tive receio de que simplesmente a tenhas trocado, sem lembrança alguma. Esse me é um sentimento bastante forte. O esquecimento, ou a insignificância de tudo que planejamos.

Nos sonhamos tantas vezes; ainda parece o mesmo tempo; ainda parece termos o tempo que nos demos. Tudo parece intacto. Não nos vivemos.

Talvez não estejas pintando a parede de uma cor clara, pode ser que tudo estivesse do teu agrado e nada tenha sido mudado. Acho que não saberei. Imaginei um piso de parquet, quase consigo te sentir.

Continuo usando fones, mesmo sem música; Ainda existe algo de ti nos tons das madrugadas. Muita coisa sobrevive ao que acaba.

Mas acabar não é  verbo bonito. 




sexta-feira, 22 de março de 2013

Sobre o vento


Os vaga-lumes pareciam ter se apagado. A noite era densa. O frio que vinha de longe trazia também areia aos olhos. Era preciso lembrar que casacos vestiam cabides inertes e óculos curavam cegueiras imaginárias. Era uma conjugação passada. Tarde agora; ou estaria errado. Deveria ser presente; foi passado. Foi distante. Foi só, nunca esteve; passou. ( Inconstante ).