Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Quando chove



( Ela )

Gosto de sentir a chuva assim, como agora. Fico sozinha. É minha música preferida. Minha distração. Uma cura. Talvez queira sarar desse sentimento; ou é a falta dele? Não sei. Não saberemos. Libertador estar aqui, esta rua, esta noite. Aqui fora posso respirar. Água que lava e leva meus temores. Sinto como se pudesse simplesmente desmanchar-me. Sou chuva por alguns instantes. Misturas. Lembro de quando falamos sobre a mistura de gostos. Vésperas. Ainda vai ser. Faço uma prece, quero despedir-me de mim. Conjugo verbos na quarta pessoa. Deixo escorrer pela calçada o singular. Seremos o plural. Este instante. Tive saudade das imagens dos nossos sonhos. Te esperei. Olhei para o fim da rua. Procuro. Tu vens?

( Ele )

- Sim, estou aqui. Deixa eu te levar para dentro? Chove. Estás molhada. Demorei. Me perdoa? Preciso te aquecer. Te faço um chá. Maçãs. Olha pra mim. Falo sério agora. Vamos? Quero te contar um sonho que tive. Esqueci a água no fogo. Te trouxe uma toalha seca. Se não quiseres  o chá faço um café para nós. Sem leite. Tens que tirar esse casaco. Vista  o meu. Vai molhar também. Tudo bem. Estou aqui. Já me molhei e vou te beijar agora!


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