Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Da importância que tem os curativos


Eu não conseguia distinguir qual a dor machucava mais, não podia colocar o pé no chão, ainda não havia aprendido a voar; os passos precisavam ser lentos, a vida cobrava uma certa urgência em todas as questões pendentes; era um dezembro, metade dele. Impreciso, nunca antes tinha tido um pai e agora, ele estava lá, ou aqui; estava junto. Estavam. Era perto. Na eminência do fim do mundo, talvez ele houvesse acabado antes e esse agora seja apenas uma reconstrução, rostos refeitos. Dezembro sempre abre cicatrizes, elas sangram; dessa vez os ferimentos foram fechados, costurados em casa. Era uma casa.  No mês em que tudo termina, eu estava começando; ainda caminhando devagar, mas havia uma mão para segurar, pela primeira vez senti. E talvez todo o resto tenha sido um engano; os olhos verdes que tanto amedrontavam poderiam estar apenas dentro dos meus próprios olhos escuros demais.




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