Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Tu



Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

Pablo Neruda


 Li um dia, não sei onde,
Que em todos os namorados
Uns amam muito, e outros
Contentam-se em ser amados.
Fico a cismar pensativa
Neste mistério encantado...
Diga prá mim: De nós dois
Quem ama e quem é amado?

Florbela Espanca 



sábado, 29 de dezembro de 2012

Sobre o que se aprende, ou não


Tudo é tão circular que causa vertigem. Pensar que evoluímos enquanto aprendemos e crescemos começa perder a coerência e é chegada a época dos balanços. Com o advento das redes sociais agora esses diários são públicos e repetitivos. Melhoramos? Não sei. Crescemos? Sim, parece que muito, mas não necessariamente evoluímos; Tomara que todos aqueles escritos escancarados em janelas sorridentes tenha algum fundo de verdade, e principalmente aportes. De minha parte, começo achar engraçado ( para tentar usar outra palavra ao invés de Estranho ). Algo sempre muda. Comecei a pensar sobre o fato da evolução ser considerada um acúmulo de experiências. Só posso falar sobre a minha própria, e em relação à isso me sinto confortável quando avalio pela direção contrária. Algo me apontava outro caminho, minha curiosidade jamais deixaria passar. Bela surpresa. O verdadeiro só começou acontecer quando comecei largar as experiências acumuladas e, soltando amarras, esvaziando malas, libertando antigas crenças, buscando ser apenas mais leve. Tudo que tinha foi avaliado e devidamente encaixotado e etiquetado, tomando rumos diferentes (obrigatoriamente), nada ficou no lugar antigo. Quero crer na individualidade sempre, no dentro pra fora. Certo que isso não será certo para todos, acho  bonito e um descanso  para a filosofia. Agora com espaço aberto para tudo conseguir respirar, acredito ser a evolução não a soma, mas o desapego de todas as experiências, com avaliação e aprendizado, mas sem acúmulos. Com as mãos vazias e um coração pleno em saber dar, muito mais do que esperar receber. Não quero ter a limitação de  esperar ser um ano novo para me libertar do que me incomoda ou para fazer vontades. Não quero anos novos, quero dias inteiros e, só. 








sexta-feira, 28 de dezembro de 2012





Se tu vens a salvar-me dessa minha inexistência diária...




Sendo relativo o tempo ainda assim demora


Era chuva ontem, não tentei dormir; Um tempo de música. Templo. Te li, busquei  imagens opacas, sempre te imagino em preto e branco. As cores vem depois, contigo. Veremos. O tântrico será casa. Abrigo. Ainda é véspera. Espera. Espere; O novo, ou o reencontro. Diferente. Marcado. Segundo mês, será o primeiro. Será verão e viveremos um outono, no outono será inverno e o inverno será o mesmo para sempre. Mudaremos. Ou não; 




( Sobra sempre um espaço branco, que vale 49 dias )


Da busca







Era assim que eu sentia
Algumas vezes eu Mão e tu Passarinho
Outras eu Passarinho e tu Mão

( até o dia que Passarinho vira Mão )





Sem legendas








Queimei incenso
Acendi velas
Fiz chá de flores amarelas
Tomei banho com água e mel
Vesti azul
Escolhi música para quando o sol se põe
Coloquei flores ao lado da porta


( encanto-me com os rituais de te esperar )




Tomara que Alice me leia agora!


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012






Eram desejos simples
Um jantar e vinho tinto
Talvez um beijo;

( é pedir muito? )




Quando chove



( Ela )

Gosto de sentir a chuva assim, como agora. Fico sozinha. É minha música preferida. Minha distração. Uma cura. Talvez queira sarar desse sentimento; ou é a falta dele? Não sei. Não saberemos. Libertador estar aqui, esta rua, esta noite. Aqui fora posso respirar. Água que lava e leva meus temores. Sinto como se pudesse simplesmente desmanchar-me. Sou chuva por alguns instantes. Misturas. Lembro de quando falamos sobre a mistura de gostos. Vésperas. Ainda vai ser. Faço uma prece, quero despedir-me de mim. Conjugo verbos na quarta pessoa. Deixo escorrer pela calçada o singular. Seremos o plural. Este instante. Tive saudade das imagens dos nossos sonhos. Te esperei. Olhei para o fim da rua. Procuro. Tu vens?

( Ele )

- Sim, estou aqui. Deixa eu te levar para dentro? Chove. Estás molhada. Demorei. Me perdoa? Preciso te aquecer. Te faço um chá. Maçãs. Olha pra mim. Falo sério agora. Vamos? Quero te contar um sonho que tive. Esqueci a água no fogo. Te trouxe uma toalha seca. Se não quiseres  o chá faço um café para nós. Sem leite. Tens que tirar esse casaco. Vista  o meu. Vai molhar também. Tudo bem. Estou aqui. Já me molhei e vou te beijar agora!


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Da importância que tem os curativos


Eu não conseguia distinguir qual a dor machucava mais, não podia colocar o pé no chão, ainda não havia aprendido a voar; os passos precisavam ser lentos, a vida cobrava uma certa urgência em todas as questões pendentes; era um dezembro, metade dele. Impreciso, nunca antes tinha tido um pai e agora, ele estava lá, ou aqui; estava junto. Estavam. Era perto. Na eminência do fim do mundo, talvez ele houvesse acabado antes e esse agora seja apenas uma reconstrução, rostos refeitos. Dezembro sempre abre cicatrizes, elas sangram; dessa vez os ferimentos foram fechados, costurados em casa. Era uma casa.  No mês em que tudo termina, eu estava começando; ainda caminhando devagar, mas havia uma mão para segurar, pela primeira vez senti. E talvez todo o resto tenha sido um engano; os olhos verdes que tanto amedrontavam poderiam estar apenas dentro dos meus próprios olhos escuros demais.




sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Eram tardes de um branco profundo, sem paredes. Não cabia sequer uma música; fazia chuva e o sino badalava ao longe, pude ouvir. O silêncio estava perto, o sino longe; e tu? 


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012




é vida sempre




Ainda sobre o sol, mesmo que seja madrugada


Era sobre o medo, ou sobre alguma busca, talvez coragem. Era sobre estar perto; conectados. Inquietos e em paz; Era sobre colocar os fones de ouvido só para que nada mais importasse; era sobre estar junto e o medo de ir embora. Sobre ficar sem dormir e imaginar uma voz. Era sobre voar ou saltar, ver o céu. Poderia ser uma questão de sorte, de acreditar ou não. Era sobre querer, um quase tocar; leve. Surreal. Era sobre o medo dos desencontros. Sobre não esquecer. Era muito sobre música e alguns outros contos. Era sobre permanecer. Era sobre ler e mostrar o mundo. Sobre ser depois e ver um outro mundo.

( era muito mais sobre imaginar a expressão contida em cada frase, e depois; nas reticências)