Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Os pés da noite e a coruja


O chá ficou esfriando na xícara, o aquecedor ligado não dá conta do frio que vem de dentro, nem o cobertor aqueceria essas horas. O dia ainda demora, a noite se estende como um tapete largo diante de meus pés descalços, se prestar bastante atenção acho que consigo ver as unhas crescendo, as minhas e as garras da noite também. Sempre acho suas marcas, as vezes no chão, outras vezes na carne dolorida. 

E mesmo que o tempo inteiro seja inverno morando aqui, amanhã não vou pela ponte, vou descer até o rio e atravessar por entre as pedras. Quando encontrar o ninho da coruja vou levá-la o mais longe que puder, onde ela possa piar em paz e eu dormir. No meio do dia com sol vejo os enormes pés da noite chegando, eles sentem-se donos do tapete, talvez o piso frio não lhe seja agradável; Acho que é hora de recolher os tapetes e abrir as velhas e empoeiradas cortinas.




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Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.