Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Café em copos de isopor



O resquício de algo doce para caber nesses dias de um cinza molhado vêm dos cafés e seus copos brancos; térmicos e novos. Duráveis; os copos, nunca o café. Nas mesas as pessoas falam sobre uma cidade que me conhece mas me trata como um estranho, conheço essas ruas e becos, conheço suas calçadas e desenhos; não sei como se vive aqui. Casas com portas fechadas para sempre, árvores que não têm sombras, irmãos que não se falam nunca. Talvez tenham perdido a chave; talvez seja dia de não falar nada. O verde cresce pouco entre as pedras quadradas dos pátios sempre limpos e sem flores. É só mais um inverno onde as pessoas caminham rápido entre tudo que lhes parece familiar. Os conhecidos já estão em outros lugares, foram morar onde o novo pode surpreender por entre algum prédio histórico, nas cidades que adormecem um pouco mais tarde; ou perto do mar, onde está quem se foi por sentir frio demais; deixou aqui o sentimento antigo. 

Existe um tempo de trocar as chaves. Existe uma estação em que faz frio e venta no mar. Talvez quem esteja lá lembre do que ficou. Ainda está tudo igual por aqui; mais um café e amasso a carta que te escrevi.




Um comentário:

  1. Perfeito!!! Lindo demais, não sabe o quanto penso nessas possibilidades enquanto um café em um copo de isopor sana meu frio. Ótima reflexão!

    Abraços Carol

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Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.