Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

terça-feira, 17 de abril de 2012

Do Aroma que tem um cheiro



Não quero simplesmente suspirar, quero o cheiro.

Comer o cheiro leve da pêra e o cheiro doce dos morangos. Degustar as gotas do cheiro do vinho misturado na língua com a saliva morna, tua.

Para acordar, cheiro de laranja espremida, café fraco ainda, quente. Cheiro da água do banho, do pé no ladrilho frio. Cheiro da toalha macia e do roupão grande, corpo úmido. Cheiro de dia inteiro.

Sair de casa e encontrar o cheiro do sol, do asfalto e de tudo isso junto. Cheiro de plátanos perto da estrada.

Para o sorrir pode ser cheiro de salsa, chuva e o cheiro que tem os livros. Se for sorriso tímido pode ter cheiro de figos, gargalhada mistura cheiro colorido dos damascos. Os cheiros amarelos parecem sorrisos.

Se precisar de um cheiro calmante quero alecrim. E para as horas impacientes cheiro de mato, de terra e de água corrente. Cheiro de pedra e de madeira.

Para fugir do mundo nas quintas-feiras, só o cheiro do cinema. Depois cheiro de café e maçãs. Cheiro do vento leve. Um cheiro distante.

No fim do dia insano, um cheiro forte, escuro, uísque, cheiro de lugar sombrio. Cheiro com um pouco de música.

Quando for dormir quero o cheiro seco do lençol, o cheiro único do travesseiro. Se for dormir contigo quero apenas cheiro de corpo cru, nu. O cheiro do beijo e da boca, do corpo e da pele. Do suor e do cansaço. O cheiro da urgência  e depois cheirar teu sono até adormecer nele. Cheiro de noite pura.

No fim a saudade se afoga no cheiro... e sente, e lembra, e quer. Evapora (r)


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Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.