Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quinta-feira, 29 de março de 2012



Onde é o longe?
Por que esse espaço assim sem fim?
Onde acende a luz?
Aqui é o nome desse lugar?

Aonde você está?

Onde é o começo?
Por que não acho um sinal?
Onde está o sentido?
O que tem dentro disso?

Aonde você está?

Como chega aqui?
Por que é tudo tão distante?
Será que tem final?
O que acontece depois?


( agora já não posso voltar... )

segunda-feira, 26 de março de 2012

Torpe


Hoje não estive em mim
me abandonei

Fui embora 

o que ficou não se importou 
o que foi nada encontrou

o que foi deixou um corpo dolorido
o que ficou deixou-se entorpecer

não quero voltar
não tenho para onde ir

quando fui não olhei
quando fiquei não senti

o meu que foi só andou
o meu que ficou nada procurou

Tudo desapareceu

nenhum sentimento foi levado
nenhuma sensação foi deixada

Deixe-me abandonar por hoje
amanhã entenderei





quinta-feira, 22 de março de 2012

Encantamento


Sobre chás, madrugadas e rituais




  Das resoluções realmente importantes acho que fico com Meditar  e Tomar chá.

  De tudo que tenho analisado sobre vida própria e alheias também ( sim eu observo vidas alheias como forma de coletar dados para resoluções individuais importantes ), é complicado fazer algo que não te afete diretamente logo ali no futuro. Por exemplo:

  Informação demais te deixa alucinado;

  Declarar que é feliz? Pouco aceitável, precisamos do descontentamento, pelo menos parcial;

  Comer engorda;

  Beber não é solução e causa telefonemas indevidos ou no minimo inapropriados;

  Fumar causa câncer e tornou-se deselegante;

  Falar demais te faz chato;

  Ser diferente te torna esquisito;

  Tomar tuas próprias decisões pode parecer pouco feminino;

  Leite nem pensar por causa da intolerância;

  As atitudes acabam por te construir e se não tiver um projeto pronto, pode tanto virar uma cabana quanto um castelo e tem dias que não faço a menor ideia de como resolver problemas. Em outros resolvo, mas hoje não dá.

  O mundo tem tamanhos diferentes relacionado aos dias, tem dias que fica enorme e dias de mundo pequenininho, é relativo, é imprevisível ou absolutamente previsível. Indefinível.

  Falta conexão com o mundo, sintonia com o universo e falta principalmente colocar os pés no chão e sentir teu chão, ou meu chão, mas se me projetar como terceira pessoa pareço evasiva, se escrevo em primeira pessoa e sem artigos falam em narcisismo ou egocentrismo.

  Por isso acho que o que realmente importa e não causa contra- indicação é rezar, no silêncio enorme que couber em mim, e tomar chá, sem açúcar, numa temperatura agradável que não fira a cerimônia oriental e nem vá contra os costumes ocidentais.

  Talvez assim não agrade ninguém e muito menos desagrade, ou talvez abstraia tudo e nem sinta a diferença entre um e outro... No fim tanto faz.





quarta-feira, 21 de março de 2012

Um café




Passava bastante já do meio-dia, sentadas no café falavamos sobre projetos, faziamos planos, Ana almoçava e eu tomava um café. Fazia muito tempo que não conversávamos, e os assuntos vinham urgentes e misturados, a dieta seguiria por email, o roteiro seria iniciado e eis que surge a expressão derradeira:

- Ana, tem algo errado comigo.

- Não tem nada errado contigo, teus textos estão amadurecendo como tu, estão mais substanciosos. ( risos).

- Não Ana, não falo de escrever, falo de acontecer. Olha só: eu separo o lixo, tenho uma horta orgânica, tomo banho em menos de sete minutos, estou  lendo coisas bacanas e vendo bons filmes, te juro que me esforço para selecionar o que é importante e verdadeiro.

- Isso dá um baita texto guria. ( Muitos risos nessa hora )

- Então Ana, é sobre isso, eu queria sair dos textos, sair dos livros e dos filmes. Eu queria uma vida de verdade. Me sinto estranha, estagnada, enquanto tudo parece evoluir e caminhar em direção à etapas cumpridas de vidas que tornam-se completas, eu fico aqui presa em um tempo que nem sei definir.

- Guria!!!! ( Cara de espanto divertido) Parece que eu estou te lendo. Que doidera isso.

- Tu tá vendo Ana, falei que sou estranha, as pessoas não me vêem, só me lêem. Quando será que vai chegar a minha vez de fazer coisas? De senti-las?

- Não sei, pega aqui um pedaço desse chocolate, serotonina vai nos fazer bem hoje!!

- Não, esse chocolate tem coco, eu não gosto...

Fomos embora, Ana tinha dentista e eu precisava terminar várias coisas ainda daquele texto diário que apelidaram de rotina...

terça-feira, 20 de março de 2012

Casa vazia


A porta fechada
O jornal no chão
A luz de fora ligada
Nenhuma voz se ouve
O silêncio sem os risos
O varal vazio
O gato sem carinho
A planta murchou
A garagem vazia.
Não tem ninguém em casa.

sábado, 17 de março de 2012

Maduro


Tire o casaco e os sapatos por favor,
entre devagar, não faça barulho
O amor vive aqui agora
precisa do silencio de dentro
precisa da calma nas palavras
Não o assuste
Ele gosta da doçura de estar assim quieto...



terça-feira, 13 de março de 2012

Pedacinhos



Eu queria ter fotografado as mãos de meu pai.
Queria saber fazer aquele risquinho acima do olho com delineador, mamãe gostava.
Queria ter aprendido rezar como minha avó e entender o vento de chuva como o vô.
Queria ler a amizade como minha irmã e queria ter passado mais tempo com meu irmão.
Queria ter o entendimento imparcial do meu melhor amigo.
Queria aprender me espreguiçar como meu gato e andar descalça na terra como minha irmã menor.
Eu queria entender de cinema como minha melhor amiga e queria saber fazer tranças no cabelo da minha filha. Queria entender de gente tanto quanto meu cachorro sabe de mim.
Queria dormir simples como meu filho.
Eu queria  sorrir leve como a menina que faz malabaries no sinal.
Queria que cada vontade dessa pousasse leve no meu coração hoje e que eu pudesse carregar esses pedacinhos de felicidade embrulhados com pano colorido e laço de fita...


Muito pouco



Os outros estão distantes
Eu estou só

Os outros estão felizes
Eu estou estagnada

Os outros estão viajando
Eu estou onde?

Os outros estão falando
Eu estou ouvindo pouco

Os outros estão no sol
Eu com saudade do frio

Os outros estão preparando o jantar
Eu durmo no sofá

Os outros estão dançando
Eu ouço o silêncio

Os outros estão sorrindo
Eu disfarço também...


quarta-feira, 7 de março de 2012

Baléla

 

O dia das mulheres é a maior piada do calendário.

   Dia da mulher? Para homenagear a luta das que foram queimadas por questionarem seus direitos? A conquista do direito de votar? O poder de decisão sobre o próprio corpo?

  Dia equivocado seria melhor definição.

  Dia histórico que se resume a sorrisos em troca de singelas rosas vermelhas. Parabéns pelo seu dia!
  Eu já comemoro o  meu aniversário, não preciso de outras  comemorações. Preciso apenas  da Consciência clara de ser humano, sem distinção de gênero, sem datas absurdas.

  Não precisamos de homenagens, é só igualdade. Uma igualdade branca, sem pretensões. Ser igual basta. Nem Lei Maria da Penha seria necessária, violência contra ser algum é permitida.

  Cada rosa aceita hoje com um largo sorriso de agradecimento pela homenagem é um passo na direção contrária da igualdade.

  Cada aperto de mão aceito é só mais um ponto para a superioridade velada.

  Socialmente bonito? Moralmente aceito? Não acredito. Apenas uma forma sutil de exercício do machismo social vigente, alimentado pela ala feminina que acredita em Dias Especias!!!



Leve


Sente o que te faz sorrir
Agradece o novo que chega
Larga tudo que te pesa

Abraça o que te deixa leve
Segura firme o que te é de verdade
Vive o agora na simplicidade de um dia tranquilo
Deixa teu coração quietinho na paz de uma mão amiga.
Fica bem!



terça-feira, 6 de março de 2012

Perto



  Um comentário surpreendente, um brinco de pérolas e o cabelo preso, assim começava aquele dia. Seria distinto, único e memorável.

   Era um encontro, daqueles que a vida prepara e nos deixa sem ar. Era um desencontro, desses que a vida prepara e nos deixa sem ar. Encontrar para logo perder, assim junto na mesma hora, de um golpe só.

  Seria um encontro se fosse possível e permitido. Foi um desencontro entre os acasos sem explicação. Seria um encontro se coubesse cumplicidade. Foi um desencontro pela distância. Seria um encontro pela admiração mútua, pelo prazer da descoberta. Foi um desencontro pela noção de realidade.

  Teria sido um lindo encontro pelas afinidades e um desencontro pelas responsabilidades. Um encontro pela espera e um desencontro pela rotina. Um encontro pela simplicidade de estar junto e um desencontro pela realidade de ser distante.

  Seria, teria sido, se, fosse, talvez, acasos, vidas complexas... Encontros que desencontram.




sexta-feira, 2 de março de 2012

Pausa


  Nunca sonhei contigo e nem sei como é teu perfume. Desconheço tua voz e sinto saudade dela. Me confundo com os sabores e só posso te imaginar ou te delirar, não sei ao certo ainda. Sei que às vezes és doce, outras nem tanto.

  Meu confidente sim, te cuido desde sempre, cuido desse sentimento. Logo estarás aqui para receber, é questão de tempo só. Um tempo único de esperar e mesmo sem estares aqui estas comigo.

  Talvez seja apenas uma esquizofrenia melada, peço-te desculpas e paciência, tenho uma dificuldade enorme em reconhecer essas coisas. Prometo me esforçar,  mas os dias estão ficando arrastados e as noites são cruéis comigo.

 Se eu não te encontrar logo, me faz um favor?  Deixa eu saber a tua música preferida, a espera com trilha sonora é muito mais leve...