Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Encontro


  A dor é um sentimento dobrado. Me apego a ela. É minha, não quero fingir que não sinto.

   É um expurgo, chega como um abraço, laços de arame farpado. Quero sangrar por hoje. Sentir o coração gelar, a fisionomia endurecer. Sem sorrisos.

  Quero sentar e conversar, ouvi-la, de voz fria, seca e dura.

  Deixe-nos à sós.

  Colocá-la em um altar, ajoelhar-me e venerá-la. É sagrada, de uma beleza rara. Sem lítio, sem amortecências, só sentir. Deixar sair.

   Tem dias assim, não é ruim, um sofrimento libertador. Dor que cura a alma, sem curativos. Uma ferida que seca aberta.

   Dói toda dor de mim, toda dor está em mim, e eu à respeito. Deixo doer e só. Quando ela passa e vai embora  o corpo dorme exausto e a lembrança macia da dor acorda sem sentir.

   Surge o sol e com ele  encontro meu corpo abandonado que já pode sorrir.
 
(   fica a sensação de olhar para o lado e ver um lugar vazio, o café frio... )




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Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.