Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Questão de estilo


Se eu fosse historiadora poderia citar o Bra-Burning de 1968 exemplificando o inicio do meu ensaio sobre a perda da identidade do feminismo. Na verdade ele deveria ser usado como marco inicial do raciocínio, seguido do pós revolução francesa em meados do século XIX. Então graças a eu não ser uma historiadora, podemos pular a bagunça inicial e partir para importância da calça saruel nesse universo.

Dia desses estava sentada ao lado de um colega, quando passou uma mulher de calça saruel preta, botas e um casaquinho básico, com uma camiseta cinza. Era uma mulher de personalidade bastante forte e uma segurança admirável. O que me espanta é o comentário masculino: Que tipo de calça é esse, não destaca a forma feminina? Parece uma grande fralda. 

Os homens foram educados por mulheres, que os ensinaram que o corpo feminino é recurso visual, é para ser " admirado". E nós mulheres nos usamos disso como ferramenta de sedução. E no fim existe um grande equivoco de ambas as partes.

Em tempos de peitos siliconados e calças absurdamente justas, não seria surpresa que uma saruel causasse espanto. O que deixa-se de perceber é que para uma mulher, abrir mão " desse recurso" e sair na rua, segura de si e completamente à vontade, vestindo algo confortável e que não " marque seus contornos", é a mais perfeita forma de exemplificação de feminismo autêntico. É uma questão de libertação, de gosto e estilo também claro. Mas é bom saber que depois do modismo, depois de passada a febre de estar antenada, surge algo que sinalize na direção da evolução de uma  luta inciada a muito tempo, lá na história do início do texto, onde mulheres lutavam pelo direito à uma autonomia original. 

Autonomia essa que lhe permite construir uma personalidade independente, desvinculada de espectadores, quando não precisa de aprovação visual somente. Quando consegue essa construção com aportes realmente concretos, algo que vai além da matéria.

Talvez me acusem novamente de ser pouco feminina, e talvez esse texto seja somente para que eu lembre que  isso deixou de ter importância antes da saruel sair de moda e eu ainda continuar usando e admirando quem ainda a use, independente de gênero...











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