Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Abdução


Viver a vida assim sob uma perspectiva de expectador é estranho. Amanhecer quando nem se dormiu, e ter que imaginar quem será que esteve com meu sono? Quem vive minha vida verdade? Onde estou eu nesse momento, quando não estou aqui? Quem está no meu lugar? E quem é essa que diz ser eu, e eu na verdade nem à reconheço?
Onde acontece a fragmentação da vida? Do nosso tempo? Onde acontece a perda do caminho? Onde ocorre a substituição?
O que é feito do amor quando não consegue entrar nesse coração? Quem fica com a parcela de amor que era minha? E os sentidos que não encontro, quem fica com eles?
Quem sorri disso tudo que não acho graça?
Eu poderia ser qualquer um, poderia ser todo ou nenhum alguém. Poderia ter coração e não dor. Poderia ter vida e não espectro. Poderia ter coragem e não cansaço. Poderia ter encontrado a razão de parte de um todo.
Quem encontra tudo isso que procuro? Quem me rouba assim dessa maneira? E quem é esse eu que permite isso? De onde vem e para onde vai? Quem fica com todos os abraços que eram meus? Onde foi parar a coerência? Quando partiu? Porque não viu? Onde estava?
E se fosse uma neurose?  Seria uma salvação, teria cura... Mas não é, não vem de dentro, e muito menos de fora, nunca esteve em mim, nunca estive em mim. Não seria tratável, seria penas resgate...


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