Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

sábado, 19 de novembro de 2011

Refúgio

 
O sentimento é narcisista, ele se apega mais a ele mesmo do que ao seu objetivo. Estar sentindo é o que alimenta o sentimento, é meio como a relação dos gatos e os lugares. A gente acha que os gatos se apegam as pessoas, e não é verdade, eles se apegam mais aos lugares, ao seu ambiente. Funciona assim com as paixões também.
   Sem nos darmos conta, sentimos falta não da pessoa, mas do sentimento, de como nos sentimos bem ao seu lado. O cheirinho doce, a mão macia, o jeito perfumado de sorrir, todas essas coisas que nos fazem bem... nos deixam mais leve. Um simples sorrir pode modificar completamente o dia, e a falta dele também. 
   A sensação deliciosa de ouvir: " Como foi seu dia? "; Essa pergunta aparentemente simples, provoca sensações doces, nostálgicas e mágicas. É o saber que alguém te ouve, alguém  que se preocupa, alguém quer te saber. É o sentimento sendo egoísta, o sentimento sendo inocentemente irônico... 
   Os sentimentos são  manipuladores, nos fazem acostumar tanto à  esperar, que por vezes,transformamos isso em um sentimento, acabamos nos apaixonando pelas expectativas da própria espera. E pode ser belo, mesmo quando parece interminável, distante e frio.
   Esperar torna-se então um refúgio, um lugar seguro, sem riscos; um sentimento sem sentimentos...


   

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Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.