Aqui é onde a terra se despe
e o tempo se deita..

(Mia Couto, A Varanda do Frangipani)

sábado, 19 de novembro de 2011

Estranho


Eu jamais teria coragem de te contar quantas vezes já me surpreendi fazendo planos e te colocando neles. Eu até escolhi os sapatos, e nunca te contaria que eles seriam azuis. Eu também não poderia te contar que procuro teu cheiro em quase tudo e que adoraria te ver comendo melancia, sentado na grama em um dia de verão.
   Imagine se eu te contasse que desenho teu rosto no meu travesseiro? E  se tu soubesses que já colhi flores pra ti, só que deixei no vaso da minha mesa. E quantas cartas enormes já te escrevi, quantas mensagens, emails, poderia escrever um livro com tantas palavras. E tudo sem nunca enviar.
  Te desejei bom dia e boa noite à cada manha e à cada anoitecer, só nunca te falei e nem falarei.
  As flores que eu colhi, eram lindas, belas, doces e perfumadas. Coloquei-as no vaso. Ficou lindo, estavam comigo; eram minhas. E cada dia que passava, perdiam vitalidade, por fim murcharam. Se eu as tivesse deixado como faço contigo, elas ainda estariam lá. Ainda seriam belas e poderiam me amar por isso.
  Jamais te contarei. Nunca te murcharei. Nunca te terei. Nunca te perderei... pra sempre meu.


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Coloque uma margarida nessa pulseira, vou gostar.